Vagabundeando pelo asfalto da vida,
a minha alma, maldigo a sorte !
que da esperança em voz ardida,
lentamente lhe traz a morte.
A chuva cai soprada por vento siberial
As estrelas, hà muito meus olhos não beijam
E no meio deste frio temporal,
Meus pensamentos velejam
E eis que derrepente,
Um pensamento para longe parte, o lar marterno
Onde exprimo todo o meu tormento,
Dizendo, no meu coração, só existe Inverno !
No vento esta mensagem escrevo, queridos,
Na ausência de ventura, por entre campos de trevo
Vosso amado as quatro folhas procura.
Também làgrimas eu choro
Apagàdas por lenços frios
E dos olhos eu as adoro,
Correndo como rios
Esta desventura me persegue
Desde o colo de minha mãe !
E minha força não consegue
Badila para o além !
Troquei-vos, pela escravidão e pelo frio !
E com voz serena vos digo,
Que este é mais um desafio,
E que vencer eu não consigo.
Jesus ressuscitou, dizem, não sei, não vi !
Mas sou eu sim que transporto a cruz
E libertàr-me ainda não consegui
Trinta e cinco anos de penosa dor
Com o espirito jà carcumido
Pelo transporte de tão pesado andor !
Que nada tem de florido.
Ser poeta é coisa séria !
E um desafio à morte,
Todos morrem na miséria,
Todos partem sem ter sorte
Por isso, das sílabas não me ocupo
Das sàbias letras sou esento
Da rima me preocupo
E dos meus poemas me contento
Bocage, Brel, tantos outros.
E Camões ?
Suas mãos os entregaram ao destino
Delas restàram canções, que em muitas vozes são tino !
Na poesia, eu os admiro, eu os aclamo,
O Infortunio, foi sempre seu tema
E eu por ter dois filhos que muito amo
Tenho receio e termino aqui o meu poema.