Nasci.
Num dia nebuloso e frio. De neve.
E, com o meu nascimento
todas as coisas más nasceram.
Não culpo deus (se o há) nem ninguém.
Eu sou a própria causa do mal
e da totalidade das coisas más
também!
Ninguém se aproxime de mim
que fica contaminado.
Na noite de inverno em que fui parido
fecharam-se as portas do céu
(se o havia)
e abriu-se com estrondo e dor
a residência do diabo.
Nenhuma estrela permanecia no céu
nesta noite negra, cerrada.
Assim hei-de morrer um dia sem luz
suicidado pelo tédio
que me legou o nada.
Perdoem-me
se ao mundo leguei apenas
dor e tédio.
Queimem-me, já sem préstimo, as ossadas.
Nem uma amostra de mim
exista depois da minha morte.
Tudo desapareça nas minhas cinzas
queimadas.
Nenhuma estrela permaneça no céu
na noite em que eu morrer
também.
Nem a noite permaneça sequer.
Morra a soma de todo o universo.
Deixe de nascer o filho que é gerado
no ventre da mãe.
Reduza-se tudo a pó.
O presente. A história, o passado.
Não haja futuro também.
Morra tudo comigo. Apague-se tudo de vez
que para bem do universo
só lego o Nada a ninguém
do Autor a integrar "do Meu Grito em Revolta"