No escuro da noite
nos passos que percorrem as suas veredas
estreitas e sombrias
existimos...
Existimos na luz que alumia
ou na falta dela
em cada brilho de estrela
em fuga cadente...
Nos rios que correm e nas pedras
mudas e cegas
na marcha e no uivo do vento
nas pálpebras do tempo que corre
e passa
na sede arfante do mendigo
que cai em desgraça
existimos...
Existimos na voz que se ouve
e não ouve
quando fica encravada no fundo da garganta
e não grita...
Existimos no punho fechado
da revolta
na esperança da mulher aflita
que sofre as dores de parir
e grita... e grita
e amamenta o filho
que mais tarde a há-de trair...
No copo do vinho que se bebe
na côdea dura do pão que se come
- é duro mas come!-
na frescura da fonte onde matamos
a sede
existimos...
Na amora silvestre onde mitigamos
a fome
no sol da manhã e na brisa da tarde
nós existimos também...
Existimos na fé que nos guia
quando não perdemos a fé
e por sorte
a vida até nos sorri...
Existimos enquanto pudermos gritar
e até que nos bata à porta
a existência da morte!
do Autor a integrar "do Meu Grito em Revolta"