Minha cabeça febril estremece.
Ela tem tantas coisas para pensar.
Eu tenho tantas coisas para dizer
urdidas nesta cabeça febril que pensa.
Eu procuro escrever a cor das ideias
que afluem à minha cabeça
sem saber sequer se elas têm cor.
Creio que elas podem ter a cor
que nós lhe quisermos dar nesta loucura
que pensa tudo e pensa nada ao mesmo tempo.
Bate-me a alma por dentro...
Sempre neste bater constante.
Parece um coração a bater na expectativa
de não perder a vida. Às vezes é já um bater ténue
que se transforma no gorgolejar de um ruído
áspero dum barco que se afunda aos poucos.
O meu barco sem velas e sem bússola
num horizonte desconhecido.
Na minha cabeça o silêncio tentador
com misturas de imprevistos faz doer.
Houve um tempo em que com os meus dedos firmes
eu fazia vibrar as flâmulas da vida.
Hoje, com eles, eu toco ao de leve, apenas
as trémulas campânulas da luz.
Desta luz que ainda teima e alumia.
Da luz que da noite se faz dia.
Da luz que tomba à mesa dos pobres
na sua infantil aura de agonia.
do Autor em "As Armas do Silêncio"