Da minha janela eu vejo uma queimada.
Ali, dentro da selva africana.
Destina-se a preparar o terreno para plantar a mandioca.
É evidente haver por ali um acampamento!
Também é certo, que haverá amanhã, uma batida.
Possivelmente farei parte. Oxalá eu me engane, mas teremos problemas.
Maiores do que os da última vez!
Naquela zona há muitas montanhas e a distância a percorrer será grande.
Talvez eu tenha sorte e não vá.
Afinal tenho estado muitas vezes de vigia, nos últimos tempos.
O café ficou melhor. Muito forte, mas saboroso.
Fui eu que o fiz, utilizando a invenção que já te contei.
O guardanapo para o coar, deu resultado, embora tenha de encontrar uma flanela.
Dará melhor efeito!
O café que bebemos é muito mau.
Assim, este, teve sucesso.
O grande problema foi o de não conseguir dormir.
Estava muito excitado!
Às 10h, cortam a electricidade e temos de nos deitar. E dormir? Fiquei muito tempo a pensar.
Arquitectei o nosso futuro. O dos nossos filhos.
Cheguei a pensar ficar a viver aqui, em Angola.
Criar os nossos filhos numa fazenda. Em contacto com a natureza.
Aí as coisas não estão bem. Não há empregos.
É tudo caríssimo!
Mas qualquer parte do mundo será boa para nós.
Com o nosso amor e uma casa confortável...
Seremos decerto felizes.
Se a guerra acabar, aqui, vão precisar de gente especializada. Haverá empregos bons.
Veremos como as coisas se desenvolvem.
Ontem fomos colher ananases.
Aí são caros e nem todos podem comer.
Assim, fartei-me!
Ainda temos muitos guardados.
Passado uma hora e meia, pelo capim, encontramos uma ribeira. A ladear estavam eles.
Parecia um jardim tropical.
E é, mas dentro da natureza!
Éramos três, não se pode andar só pois é perigoso. Alguém tem de estar alerta.
Pode haver uma emboscada.
Tenho saudades de todos.
Fala-me dos amigos, do que fazem.
Se são felizes!
O Natal está perto e a data faz-me nostalgia.
Aumenta as saudades que tenho de ti meu grande amor.
ÂNGELA
LADEIRO