Não são nada de especial. São apenas memórias.
Lembro-me bem que estava a chover.
De inicio eu encolhia-me, tentando que a chuva não me encharcasse. Mas tu não chegavas. E pouco tempo depois já não me encolhia. Já não me importava a chuva porque por mais pingos que caíssem não me iriam molhar mais.
Então aí fiz parte da chuva.
Senti-me diluir nas poças do passeio e escorrer pela rua abaixo.
Lembro-me bem disso. Estava a chover bastante.
Estava sentado com os braços apoiados nos joelhos. Com as mãos juntas e de dedos entrelaçados.
Lembro-me bem de como gostava de entrelaçar os dedos quando estava à espera.
Entrelaçava os dedos e perdia-me em viagens pelos meus pensamentos, pelas minhas memórias. Olhava o vazio infinito das recordações.
Lembro-me bem disso. Estava a chover bastante, e eu a viajar pelas minhas memórias.
Que estranho.
Tenho esta memória onde me lembro das minhas memórias daquela altura.
Mas lembro-me bem dessas memórias.
Não são nada de especial. São apenas memórias.
Não são memórias de grandiosos reis, de guerras profundas, de valorosos heróis…
Não são memórias de grandes homens, de artistas geniais, de gente importante…
Não são memórias de excitantes descobertas, de vivências felizes, de paixões intensas…
São apenas memórias.
Memórias de dedos entrelaçados quando chove demasiado.
São apenas memórias.
Memórias do tempo em que esperei por ti.
Emanuel Madalena