Saudade é excesso de lembrança.
É a tal dor que desatina, mas doendo mesmo.
É deixar de cantar.
É pranto.
É ter as mãos geladas sem o coração quente.
Saudade é o céu com nuvens.
É Inverno.
É uma manhã fria sem esperança.
Sem café com leite.
Sem torradas com manteiga derretida.
Saudade é o nevoeiro que brilha ao luar.
É o rio que gela.
É ouvir a chuva a suspirar nos telhados.
Saudade é não conseguir dormir.
É não querer acordar.
Saudade é dor de cabeça.
É suor frio.
É sangrar devagarinho até ficar pálido.
Saudade é arrastar a solidão.
É esmagar o peito.
É viver um pouco menos.
É morrer um pouco mais.
Saudade é perder o comboio.
É ser o último a chegar.
É ficar sempre de fora.
Saudade é odiar o destino.
É negar o mundo.
É querer o ontem.
É não existir amanhã.
Saudade é não ter tempo.
É estar parado.
É envelhecer sem rugas.
Sem netos.
Sem mantas aos losangos.
Sem cabelos brancos.
Saudade é loucura.
É infâmia.
É mentira.
É solidão.
Saudade é o céu sem estrelas.
É moinho sem vento.
É não sentir mais a chuva na cara.
Saudade é não haver razão.
É não saber porquê.
É não querer um sentido.
Saudade é monólogo.
É poema.
É soneto.
É morrer a poesia quando se escreve uma linha.
Saudade é cegueira.
É surdez.
É querer dar os cinco sentidos para ter o sexto.
Saudade é o café frio.
É o pão sem sal.
É a flor sem cheiro.
Saudade é não gritar.
É não dar beijos.
É não tocar.
É não sentir.
Saudade é medo.
É falta.
É um vazio na alma.
É um fim que nos lembra demasiado perto.
Saudade é silêncio.
É sussurro.
É deixar as palavras morrer…
…num murmúrio.
Emanuel Madalena