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SINOS, MESTRES, ALUNOS, MEIO FIO E A LONGA ESPERA

 

Bateu o sino, como todos os dias fazem os sinos
Acabou a aula, durou tão pouco, não aprendi nada
Aqui nesse meio fio, na porta da escola, já fechada
Tô esperando alguém me buscar, quero sair daqui
Talvez numa van, uma kombi bem velha ou a pé
Numa carroça de burro ou num carro de boi
Ainda sou criança, bem criança, com muito medo
Ainda tenho medo de ter medo, nem pensei em crescer

Hoje o sino da escola não irá bater mais, acabou a aula
Mais tarde no centro da cidade e nos melhores bairros
Outros sinos irão anunciar alguma coisa, sempre batendo
Enquanto alunos famintos e professores divorciados dos livros
Tentam inutilmente ensinar e aprender alguma coisa, bateu o sino
Ainda estou aqui, esperando alguém me buscar e me tirar desse lugar
Preciso rápido que me ensinem o caminho calmo e pacífico do ir e vir
Nesse meio fio não tem quadro negro, só grandes mestres que nada sabem

Alguém diz que o giz também acabou, não há mais nada a escrever
E o sábio pássaro passa rápido e conta que o mestre não sabe de nada
Só resta ao tempo que irá testar a todos dar a nota dez sem o “um”, sem medo
Quando não se sabe para onde ir, todos os lugares estão reservados, todos servem
Quando se está perdido, o desconhecido é caminho igual, é a melhor saída
Alguém que nada sabe, quando sabe disso, vira mestre e passa a ensinar
Pobres mestres, que sem mestres, tentam de todos os jeitos aprender e a ensinar
Alunos e mestres sem notas, sentados num meio fio, esperando o trem da ida

O futriqueiro de plantão, sem esperança, naquele dia não foi amar
Não sabia escrever, não sabia ler, sabia muito, gostava muito, sabia amar
E eu pequeno e único aluno de grandes ideais, filho do povo, alma comum
Também queria aprender amar, guardar a mochila, embrulhar os livros
E sentado no meio fio, desenhar o caminho da longa estrada do nada, do acaso
Que é o caso mais sério da escola cigana, que vai mudando de rumo pra não ter lugar
Quando o sino da minha escola bater pela última vez, vou pedir esmola, pedir aos miseráveis
Me levem daqui, ensinem ao saber, façam do meio fio a esquina do saber de todos os mestres.


José Veríssimo

 
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