Promete que cantas,
Que declamas,
Que entoas mesmo que baixinho,
Poeta,
Os acordes do desânimo,
Que nos saem da garganta.
Promete que revelas,
Aquilo que de nós te parece soar sem ritmo,
Sem cadência,
Há sons que nos escapam à socapa do coração,
E são fruto de tantas revoltas,
Que não nos dão tempo sequer para que os passemos
antes pelo crivo pertinente da razão.
Por isso perdoa nossas falências.
Promete que falas, amigo poeta,
Desta ânsia incontida,
Que nos sopra veloz das almas,
Porque é grande o sentimento que trazemos,
E grandiosa a compaixão que nos espicaça.
Promete que não desprezas,
Que dás algum valor,
Àqueles versos que parecem ladainhas
tristes, que soltamos.
São sons agudos e estridentes,
Que subliminarmente propagamos,
Enquanto gritos internos de denúncia.
Promete que lhes dás eficácia,
Talvez com a tua voz eles ganhem forma,
E possamos apregoar aos sete ventos por aí,entre as gentes,
Tudo aquilo a que a nossa emoção a ti conduz,tão facilmente.
Fala e parte por nós,
Contra a infâmia que assola o Mundo,
Que nos atrofia.
Por esta ânsia que trazemos,
Por encontrar o éden,
Aquele lugar onde segundo o Génesis,
Viveram Eva e Adão.
Promete que reclamas,
Em nome da justiça,
E de todos os homens de boa vontade,
Por esse lugar das delícias,
Para que breve regressemos,
À estância na Terra,
Esse lugar ao qual apelidamos de Paraíso.
Somos atingidos pelos estilhaços da miséria,
Que se propagam como balas expeditas,
E nos ferem as consciências.
Vivemos magoados pelas feridas que nelas se rasgam,
Que cauterizam,
E antecipam o tempo da morte e da negação.
Promete então que denuncias,
As vozes dos esquecidos,
De todos os que vivem submersos, e desanimados à custa da má fortuna e da vida.
Promete que cantas,
O silêncio dos inocentes que não
atendemos,
Dos apaziguados pelo poder e pelo medo.
Daqueles todos por quem tudo devíamos mover, e
nada fazemos por mera cobardia.
Que nos impossibilita de viver felizes.
Promete que nos vais embalar esta noite,
Com um poema,
Ou com o refrão de uma terna balada de Amor,
Que tu inoves.
Só a tua voz pode fazer propagar pelo infinito,
Os ecos das vozes doces da Esperança,
Que nos levaram até a ti, com admiração.
Promete-nos tudo outra vez,
Para que fique firme e seguro o compromisso entre nós,
Porque é preciso que juntes a tua, à nossa voz,
Tal como tu,
Não admito ficar destituída dessa luta.
(dedicatória a Luís Gaspar e a todos os poetas)
Beatriz Barroso