que é feito?
de mim
e das certezas inúteis que me saciam
que é feito?
dos doces recantos
barrados em sorrisos aparentes
expectantes nos vazios de silêncio
que é feito?
do conforto conformado
na contrariedade assumida
fluindo, na mestice de dias pares
já roído pelas cãs de surdos anos
que é feito?
de quem fui
jovem inebriado, riso rasgado
simples, ousado
liso de medos, nas vitórias por vencer
nas dores, paridas de sonhos
semeei novelos de ilusões
descalças
ásperas, cortantes
que me deram?
marés de vazios
sorvedoras de gotas matinais
pequenos nadas, gritantes
coados, pela brisa do ocaso
fui
porto de abrigo
seguro e seco
letras de palavras
roucas de loucas
muralha serena
tecendo a vida
vida
trocada por vida
trocada por tudo
trocada por nada
tenho
chão por cama
saco por mesa
tenho mais
tenho a certeza
certeza
de te ter, sem ter
de sentir, sem te ver
és
a luz, no espaço
um sorriso, um abraço
a paz, emoção
o desejo de ser
um momento sem tempo
a arder, no chão
pensamentos singelos
soltam-se
em tarde fácil
sopram suaves segredos
desnudam
pedaços de alma
ruisantos