Dia 31 de março de 1964 A noite morta, pútrida, assustadora, antes do coma 'induzido'. As pessoas nas ruas, unidas para algo que não tinha sentido. Limpeza étnico-política, o gosto de sangue nas ruas das cidades. Descendo como cometas, os cacetetes em nossas cabeças...
Nossos filhos, irmãos, mulheres, pais, expulsos de sua pátria. Pensadores, proibidos de respirar, pela fumaça dos gases lacrimogêneos. Crianças, que cresceram com dupla personalidades... Sombras de algo plantado à força, por ternos e gravatas, tingidos de sofrimento...
Os brindes das taças de cristal, com vinho feito de lágrimas. A trilha sonora, composta por tiros, correria, gritos e agonia. Risos de homens com medalhas polidas, mas a que custo? De pessoas que foram forçadas a polí-las. 'Faça isso ou você morre'.
A pomba branca teve a asa amputada. De branca, virou cinza, restos de uma noite antes do furacão. 45 anos. Uma lembrança que atordoa, que ainda causa medo. Nunca esqueçamos, o que fomos. Rezemos sempre para que isso não se repita.
Autor: Um amigo meu do orkut Falso Anjo Lain.
O Nosso Hino da resistência - Cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...
Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca resta o peito Silêncio na cidade, não se escuta De que me vale, ser filho da santa Melhor seria ser filho da outra Outra realidade, menos morta Tanta mentira, tanta força bruta...
Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...
Como é difícil, acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar, um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada, pra qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa...
Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...
De muito gorda a porca já não anda (Cálice!) De muito usada, a faca já não corta Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!) Essa palavra presa na garganta Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito resta a cuca Dos bêbados, do centro da cidade...
Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice Pai! Afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue...
Talvez o mundo não seja pequeno (Cálice!) Nem seja a vida um fato consumado (Cálice!) Quero inventar, o meu próprio pecado (Cálice!) Quero morrer, do meu próprio veneno (Pai! Cálice!) Quero perder de vez tua cabeça (Cálice!) Minha cabeça perder teu juízo (Cálice!) Quero cheirar fumaça de óleo diesel (Cálice!) Me embriagar até que alguém me esqueça (Cálice!)
"O ninja é como o vento, não é possível tocá-lo, quando desejo vê-lo não consigo, quando tento escutá-lo não me é possível, somente consigo senti-lo, como o majestoso vento soprando em minha face"
Re: Cálice (31/03/1964 Um dia para o Brasil nunca esquecer)
Embora não tenha vivido essa época, estudei sobre essa parte suja de nossa história! e sei de relatos de pessoas que estiveram no centro do furacão. A música cálice era o tema da resistência. Escrita de forma ambígua para poder "passar" despercebida pela censura do governo, neste anos "de chumbo", onde Democracia era apenas um nome e um sonho, juntamente com os direitos constitucionais. Maravilhoso texto!! abraço.
Re: Cálice (31/03/1964 Um dia para o Brasil nunca esquecer)
Na verdade eu também não vivi essa época, tenho 23 anos, porém faço história na faculdade então estudo muita coisa que normalmente não saberia. Meu pai foi um guerrilheiro na ditadura na Argentina, onde perdeu sua primeira mulher e seu irmão, assassinados pelos militares, e a guarda dos meus dois irmãos (que ficaram aos cuidados dos meus avós) quando ele teve que se exilar da Argentina. Agradeço pelo comentário :)
Re: Cálice (31/03/1964 Um dia para o Brasil nunca esquecer)
Triste episódio sim, poeta! Que nunca mais se repita... Tive contato com muitas pessoas que viveram este terror, que deram seus depoimentos através de seminários, olha, fica quites com a Chamada "Santa Inquisição", como o ser humano pode ser tão cruel?!Meu pai foi perseguido...O pai de um amigo, que na época era jornalista, foi torturado e ficou com sequelas mentais irreversíveis. Não dá para esquecer, mesmo que conheçamos apenas pela história... Muito bom seu texto e a música.