Lado quer a liberdade
Não quer a asfixia
As grades, o mofo, a mofa
A ferrugem, o ferro frio
Muitos anseios, tantos planos
Sem caráter, sem brio
Abelardo é seu nome
Habbeas Corpus, sentenças
Aqui ele não tem nome
Nada restou
Do apelido de criança
Dos mimos da mãe
Do pai
Dos folguedos pueris
Todos têm o mesmo plano
A mesma cabeça
O mesmo quadrilátero
Seu nome tá na parede
Como d’outro prisioneiro
Pichado feito um frangalho
Lado não é mais pirralho
Não significa mais nada
É apenas Abelardo
Homem feito, refém do crime
Que o tempo endureceu
Que a prisão corrompeu
E as memórias de criança
Foram apagadas.
JOEL DE SÁ
SP, 27/03/2009.