Como prioridade, a revista ao Navio.
Ver a localização dos aposentos, destinados aos homens do Pelotão.
Serão dois milhares e meio, mas as condições são excelentes.
Os últimos momentos em terra, passei-os com o meu pai.
Jantamos e fomos ver a revista "O Trunfo é Espadas", com Camilo de Oliveira e José Viana.
Deitei-me tarde e tive de me levantar cedo.
Tinha de estar no Navio às 8h. e o Pelotão tinha de me seguir.
As despedidas iriam ser feitas com a presença de amigos e familiares.
No meio daqueles milhares de pessoas estava o meu pai e alguns amigos, de Lisboa.
Às 10h em ponto começou a formatura para o desfile e a revista pelo Ministro do Exército.
Seguiu-se o embarque.
A despedida por parte dos populares, foi comovente.
Para mim toda aquela massa anónima de gente, lembrava-me de ti e da minha mãe.
Não estavas no cais e isso foi muito penoso.
Mentalmente via-te e dizia-te adeus.
Estavas sempre no meu pensamento.
Os soldados mandavam beijos às suas namoradas.
Chorava-se, dentro e fora do Navio.
Quando este se começou a afastar, caí na realidade.
Senti efectivamente a separação.
As lágrimas caíam pela minha face.O coração muito apertadinho.
Um crescente medo de não voltar mais.
Não me saíam mais lágrimas, ficavam estranguladas na garganta.
Com muita força abandonei o local para não continuar, pois choraria, choraria....
Nem sei o que pensar ou dizer...
O Navio ia-se afastando e as pessoas no cais, não passavam de uma mancha de lenços brancos, acenando um último adeus.
ÂNGELA
LADEIRO