Todas a semanas se despiram de iluminados dias, para só um brilhar. Mas um dia Pedro, sempre de olhos postos na sua donzela, sempre esperando novas palavras, dá-lhe uma pista. Deixa o nome do seu blog, num comentário. E espera. Espera e nada acontece, o seu blog já não era o mesmo. Enchera-se de palavras soltas penduradas no pulsar da mente inquieta. Pareciam poemas. Mas não eram. Gritos surdos talvez. Mas onde andava Isabel? Um dia escreveu sobre o tal dia. Esperou a reacção. Que chegou não numa manhã de nevoeiro, mas num fim de tarde cansado.
Isabel, surgia ao longe, devagar. No olhar pontos de interrogações, que depositava em todos. Como que perguntando que lhe escrevia. Seria mesmo para ela?
Pedro olhava, trémulo. Desviava o olhar quando necessário. Passou a esperar a aula em diferentes sitios. E todas as semanas como se lhe adivinhasse o pensamento Isabel lhe surgia, na surpresa. Temeu adquirir graves problemas cardiacos.
E um dia no seu blog, que mais ninguém conhecia num post muito específio, o inesperado comentário. Susto, susto. Era meio imperceptível. Mas logo procurou no perfil de quem o escrevera, o autor. Seria Isabel? Não lhe parecia o seu escrever, mas continuava a busca. Queria ir até ao fundo. E foi.
Numa descoberta indecifravel, descobre um blog, por onde ainda hoje passa. E por incrivel que pareça, no dia seguinte ao dia I, chamemos-lhe assim, lá estava um post, que parecia descrever o dia anterior. Se Pedro se sentava com as mãos descansado nos joelhos, quem escrevia descrevia-o.
Se Pedro ao falar com os colegas gesticulava excessivamente, no dia seguinte alguém escrevia “ Ai as mãos...”. Pedro começava a acreditar que havia coincidências a mais. Demais para o seu gosto. Seria ela? Teria ela lido o seu blog?
Num desses dias Isabel chegou cedo ao anfiteatro, muito cedo mesmo. Debroçada no patamar da escada, de frente onde Pedro aguardava a sua aula, Isabel olhava-o por vezes, parecia saber tudo e nada em simultaneo. Pedro ia ocupando-se de conversas com colegas, para evitar denúciar-se.
Nunca entendeu este dia. Isabel tão cedo chegada, tão atenta. De olhar profundo. Despindo Pedro.
Mas as coincidências, continuavam. Pedro resolve por fim ao mistério. Começa a comentar no misterioso blog. O autor retribui. Combinam conversar no msn. E inicia-se um diabólico jogo de sedução. Pobre Pedro. Que desta pouco sabia, envolve-se até ao limite, julgando encontrar Isabel, marca um encontro no desespero. O autor foi e não era Isabel. Sem se saber feliz ou infeliz, Pedro quase afunda. Mergulha na profunda dor. Foi usado. Mas logo se recompôs. Embora as coincidências surjam de quando em vez, pouco ou nada o perturbam. Ri-se apenas.
Então de volta ao blog de Isabel, descobre que ela iria publicar um livro. Rodopiou, dançou, festejou, como se ele fosse parte integrante desta festa.
Nessa noite entra no msn decidido, a falar, conversar, conhecê-la e dar-se a conheçer, assim foi. Conversaram bastante. Ela não se lembrava dele. Mostrou-lhe a fotografia, ela ficou na mesma. Ele prometeu falar-lhe quando a visse, ela pediu-lhe que o fizesse. Mas as semanas passavam, e a coragem não vinha.
Surge o dia em que os livros, surgem no local de venda. Isabel numa natural agitação, esperava-os à porta do edificio. Pedro fingia distância, mas observava.
Horas depois ouve-a comentar com um aluno que o livro já estava à venda. Como um louco em fúria saltando degraus, adquiriu o seu primeiro exemplar, ainda sem preço marcado. Que importava, gastaria até as quase nenhumas economias, mas não ficaria nem um dia sem o livro.
Correu para o carro, ali mesmo o devorou. Como se fosse depois do amor, suspirou. Deixou-se embalar. Recuperou e dirigiu-se a casa. Conversariam mais tarde.
E na semana seguinte, a coragem transbordava. Pedro sem hesitar esperou o fim da aula de Isabel, apresentou-se. O sorriso dela entranhou-se nele até à medula. Estava desarmado. Pedro trazia uma carrada de livros para Isabel autografar. Sem mesa disponivel, os dois de joelhos no chão de livros descansando num banco, como num mágico ritual, Pedro ia ditando os nomes dos felizes contemplados, com o livro de Isabel. E sem razão aparente ela tocou-lhe a mão. Suave o toque. Persistente. Depois percorreu-lhe o rosto. Regressando de novo à mão. Pedro só pensava, sinto depois, depois. Se agora o fizesse, teria que a tocar também. Controlou-se até ao impensável.
No dia seguinte o lançamento oficial. E o principio novamente.