Era uma vez uma menina que tinha uns longos e brilhantes cabelos negros, usando-os sempre presos em duas magnificas tranças. A sua tez alva contrastava com os seus olhos negros amendoados e o seu cabelo. O seu corpo franzino fazia lembrar uma menina, por isso todas as pessoas da vila onde morava a conheciam como “ a Menina das Tranças Negras”! Vivia sozinha. Ficou órfão ainda cedo, ainda menina. Continuou a morar na casa dos seus pais. Uma casa modesta mas simpática. Tinha um pequeno jardim onde plantava e via crescer as mais belas flores. A sua casa ficava em frente à casa da Sr.ª Dona Oportunidade. Quase nunca se encontravam. A Sr.ª dona Oportunidade era muito ocupada, saía de manhã cedo, ainda o sol não tinha rompido e só chegava à noite, quando só as estrelas e a lua faziam as honras da casa. A Sr.ª Dona Oportunidade era já uma senhora. Vivia sozinha. Dizia-se que era muito experiente, afável, mas quase nunca visitava alguém mais do que uma vez. Por vezes, a Sr.ª Dona Oportunidade, recebia visitas de algumas amigas que vinham de longe ficando em sua casa durante alguns dias. A visita mais frequente era a da menina Paixão. A menina Paixão era muito intensa…vestia quase sempre roupa de cor vermelha, era sensual e tinha um olhar contundente. Um dia, enquanto a Menina das Tranças Negras preparava o almoço, alguém lhe bateu à porta. Por hábito, antes de abrir, espreita sempre pela janela da sala, onde estão penduradas umas singelas cortinas bordadas à mão. Era a Sr.ª Dona Oportunidade e a sua amiga, a menina Paixão! Ficou apreensiva com a visita e hesitou antes de abrir a porta. A Sr.ª Dona Oportunidade nunca a tinha visitado antes e, agora, vinha ainda com uma amiga. O som do bater da porta fez-se sentir novamente. Então, a Menina das Tranças Negras, sem demora, aprontou-se a abri-la. Cumprimentou as duas senhoras e convidou-as a entrar. Ofereceu-lhes chá ao qual não ficaram indiferentes. Conversaram durante muito tempo. Foi uma conversa muito agradável, onde se conheceram melhor, partilhando opiniões, gostos e ideias. Partiram entretanto porque segundo elas “ se fazia tarde…ainda tinham de visitar mais algumas pessoas hoje…”. A Menina das Tranças Negras despediu-se e continuou os seus afazeres domésticos. Tinha gostado muito daquela visita. Apesar da apreensão sentida no inicio, agora sentia-se surpreendentemente bem. A partir daquele dia o sorriso nos lábios da Menina das Tranças Negras era constante. Parecia que estava embriagada com o perfume de rosas que usava a menina Paixão, que permitia que se sentisse a flutuar entre as nuvens. E foi assim durante muito tempo. Até que recebeu uma outra visita, era a Sr.ª Dona Desilusão. A Sr.ª Dona Desilusão vivia na mesma Vila que a menina das tranças negras, e já se tinha cruzado, cumprimentado e falado algumas vezes. A Sr.ª Dona Desilusão vivia numa vivenda rodeada de arbustos e ciprestes onde era quase impossível penetrarem os raios solares tornando a casa sombria. Tal como a casa, a Sr.ª Dona Desilusão partilhava do mesmo desânimo, da mesma sombra e falta de alegria. Sempre que se cruzava com ela, a Menina das Tranças Negras ficava esmorecida. Quando ao espreitar pela janela viu que era a Sr.ª Dona Desilusão ficou imediatamente imóvel, sem vontade alguma de lhe abrir a porta. Mas, tal como a anterior visita, insistiu e a Menina das Tranças Negras sentiu-se obrigada a recebê-la. Já sabia que esta visita a iria deprimir, contudo abriu-lhe a porta, conversaram, tomaram um chá enquanto o odor “ a terra molhada”, melancólico e triste passeava pela casa. Quando a Sr.ª Dona Desilusão se retirou, a Menina das Tranças Negras, mergulhou num profundo oceano de lágrimas onde a tristeza, a decepção e a revolta boiavam livremente sem pedir permissão. O sorriso que enfeitava os seus lábios deu lugar à seriedade, à tristeza, o aroma de rosas que provinha da sua casa desvaneceu-se e o coração da Menina das Tranças Negras ficou ermo como o embondeiro.
nem todos q batem a nossa porta devemos abrir,as vezes por boa educação,nossa traquilidade é roubada e a culpa é das nossas escolhas,no caso aqui,o da menina.