Amo-te de uma forma assim insana
Tropel na alma, e eu em maior tropel,
No mar do amor navego, com barco de papel!
Teus suspiros são o vento, saudade que imana
Sentir-me de existência tua, pura e ufana!
Um beijo se solta da boca se desabrocha nos lábios,
Roçam na mente pensares esquecidos de numes sábios
Como quando o amor chegou assim de forma insana…
Prazeres extorquidos por cruéis tiranos!
Amiudar a saudade a alma nunca soube
E caiu desamparada tantas vezes em enganos…
Quanto amor por ti no peito não coube!
Perdido ou encontrado mesmo por entre sentidos danos
Entitulei-o tesouro e receio que alguém mo roube…
Paulo Alves
Distinto do soneto clássico,o soneto moderno não segue o «uso exclusivo do decassílabo, o verso próprio do soneto na poesia clássica portuguesa, nem as distibuições rimáticas.
Para além da liberdade no domínio da métrica, este poema não tem as mesmas rimas nas quadras , outra das características do soneto moderno, que «não tem, obrigatoriamente, as mesmas rimas nas quadras (quer dizer, não obriga à transposição da rima para a segunda quadra)» (idem).
Portanto, são as divisões estróficas (duas quadras e dois tercetos) que parecem identificar o soneto,como «poema de forma fixa, caracterizado pela tensão e pela concisão discursiva, e composto de catorze versos distribuídos por duas quadras e dois tercetos, que tendem a formar duas unidades, a primeira de oito, a segunda de seis versos»