"Faz muito tempo que lacrei esta minha outra face
Oculta ela adormeceu, mas logo despertou novamente
desfigurada e enegrecida pelo tempo ela aparece
E desta vez ela não sorriu. Me senti transparente
Num olhar entendi, minha alma quebrou no meio
agora estava na minha frente rindo muito, é sim
Me fitava e apontava para gargalhar mais de mim
Não quis deixá-la, abri a porta então ela veio
E junto trouxe também alguém que sei que conhecia
trouxe consigo pra junto de nós, trouxe a solidão
Não via ela há muito tempo, a velha amiga aparecia
Como vai solidão? Não me sentia assim há um tempão!
Mas eis que agora são três as vozes dos murmúrios
tudo como em quatro paredes, solidão e alma a sós
Enclausurados numa prisão construída sem os muros
Sem poder saber do antes, do agora e nem do após
O silêncio do vento sobre tempo que urge
Ao timbre do grito e ao som dos desesperados
Se mistura, afunda e rapidamente emerge
para cair sobre meus ombros sobrecarregados
Mas não caio sobre o chão. Eu sei, não caio só
Não preciso ver para crer que só me resta o pó
pois ainda tenho a solidão e a alma aqui do meu lado
Dou as costas sozinho mas eu sei que vou acompanhado"
Paulo Antonio Merlin