Os caminhos eram dúbios diante dos contornos e das sendas com que me deparei ao seguir a órbita do Sol.
Nos momentos indelicados e inóspitos com os quais me defrontei tive a impressão de não suportar. Só algum tempo depois pude perceber que caminhava como um leão faminto. A resistência de animal bravio surpreendia minha própria expectativa.
Tentava tatear o Sol, que teimava em se acoitar através da montanha longínqua, e a cada passo que dava sofria uma emboscada e o Sol se tornava mais distante.
Na azáfama, rezava para que ele não se enterrasse no ocaso antes que eu pudesse ficar de parelha.
Eu insistia, apesar das siladas que ele me pregava. Sua luz seria meu sustento. Porém, enquanto eu corria como um desvalido, ele ia sumindo e, com efeito, esvaía a minha resistência.
Os espinhos e seixos pontiagudos espalhados ao longo do caminho não me desanimaram e eu lutava certo de que pela frente encontraria um favo de mel.
Encontrei doçura, de fato, da forma que estou te contando, ó cabrinha. Preste bem atenção: para cada gota de mel era um bocadão de fel.
O Sol se enterrou num Val, atrás de uma montanha. Meu ímpeto de vida quase se foi com a última chispa. Tudo se ofuscou.
Uma mulher de cabelos longuíssimos, chamada Noite, me abraçou. Senti uma coisa chamada Ternura. Um eflúvio parecido com o calor de uma fogueira tomou toda minha alma. E eu sobrevivi.
Joel de Sá
SP, 24/03/2009.