Conceda-me uma faca, meu Deus
Abençoada, brilhante e afiada
Que atravesse as veias, sem dó
E ao coração desate o nó
Para que fiquemos mais aconchegantes
Quando retornarmos ao pó
Quando distâncias tenderem a voltar
E onde fica a amada?
Numa alma perturbada?
Nos berços da ilusão, será?
Na solidão?
No amar?
Ouça minhas preces, Senhor!
E conceda-me a faca
Quem sabe cante eu o corte da vitória?
No final de uma dura corrida?
Quem sabe eu destroce a minha memória?
Quem sabe eu assassine o amor?
Mórbido e triste?
Puro e sem maldade!
Apenas querendo uma faca
Para matar a dor
E feridas coçar
Para cicatrizar
Queria você me querer?
Para depois sofrer?
Leve a faca querida
E em seu gume, restos de minha ferida
Para seu quarto enfeitar
E seu ar perfumar
Com o verdadeiro odor de uma coração
Podre que pode...
Podre que pede...
Sangue puro, quente e vermelho
Já olhaste, querida?
Seus olhos profundos no espelho?
Consegue ver as veias vermelhas?
E a pupila dilatada?
Que o espírito denuncia?
Seus olhos falam, sabia?
Leve, garota, a primazia
De uma veia podre jorrando sangue de ópio
Sangue de lágrimas
Faca que alivia as lástimas
E deixam lembranças de um funeral
Assim como faz uma rosa branca
No lar de uma família de ossos
Para alegrar a casa
E ilusões satisfazer
De um coração deturpado sentindo-se mal
Dentro do peito de um animal
Selvagem e mórbido?
Tá certo!
Humanamente racional!