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Aquela Praia

 
…era-lhe tão familiar como lhe eram os filhos que cresceram a brincar naquela praia e a saltar as ondas de um verde transparente. Do mesmo verde eram os montes que com ela formavam uma paisagem de sonho.
Passavam férias por essas bandas e, apesar de haver praias mais próximas, era esta a praia preferida.
O monte foi esventrado e nele embutiram um prédio em socalcos, tal pedra tosca embutida em esmeraldas transparentes. As escarpas imponentes davam uma sensação intimista àquela praia; o acesso era feito por escadas ondulantes, monte abaixo, degraus baixinhos.
Despida de preconceitos tirou a blusa, dobrou-a e com ela forrou a escarpa que lhe serviu de encosto, tendo ficado sentada em harmonia com a natureza.Olhou à volta e foi-lhe difícil reconhecer aquela praia que ela considerava ser de sonho.
As escarpas foram tiradas à praia como um filho é arrancado dos braços da sua mãe. Máquinas gigantes escavaram e destruíram o que de belo havia na praia de Vale de Centeanes. Também difícil foi descer a escadaria, decerto construída por mãos toscas e projectada por mentes insensíveis. Ponderou voltar atrás e retomar mais longe o acesso normal. Voltar atrás não é sinal de fraqueza. Deu conta quando ao fundo, sentiu que as pernas lhe tremiam.
Sentada, desligou a música, tirou os fones, desligou o telemóvel, ficou pronta para ouvir os sons magníficos da natureza e fazer a primeira sessão de bronzeado, de certa forma imprudente pelo esquecimento do protector solar.
Fechou os olhos e em estado como que de ausência hipnótica ali ficou virada para o sol.
Fortes ondas vinham rebentar com força junto ao areal e por vezes contra as rochas. Estes sons induziram o estado de quase inconsciência. Era como se fosse uma morte prematura daquele corpo que ficou desligado do mundo e do espírito.
A mente tentava construir um puzzle.
No fundo, com laivos de azul cobalto de mar, as peças encaixaram rapidamente e na perfeição. Já as restantes, monocromáticas, inviabilizaram a construção perfeita. Sobravam umas peças, faltavam outras. As arestas não encaixavam, tais fragmentos de vidas que não combinam umas com as outras e que qualquer peça que não encaixe provoca um oco, um vazio, capaz de conduzir a uma tempestade. Pensou cortá-las, como se de uma árvore se tratasse. A árvore rejubila de frescura, as peças não; a árvore cicatriza a ferida, as peças não. As arestas aguçadas vão-se agredindo mas quando amputadas morrem, morrendo com elas o verdadeiro sentido da existência.
Sentiu ardor nos seios pelo efeito do sol.
A mente juntou-se ao corpo, saindo do coma induzido pelos sons do mar.
Abriu os olhos, olhou em frente.
O puzzle estava completo de um azul celeste intenso e brilhante com o sol a aproximar-se da linha do horizonte.


Quisera eu ser poeta
Quisera eu ser pintor
Escrever telas e pintar poemas
Escrever, pintar, pintar,escrever
A humanidade com muita cor

 
Autor
adelaidemonteiro
 
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Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 23/03/2009 23:56  Atualizado: 23/03/2009 23:56
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Usuário desde: 14/05/2008
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Mensagens: 10301
 Re: Aquela Praia
excelente, Adelaide!
Lindíssimo.
Bjs
Vóny Ferreira