Apeia, apeia!
Gritava meu irmão.
E continuava a gritar:
Apeia! que o burro é brabo!
A voz me vinha distante,
chegando como um recado do vento,
um sopro meio ondulante...
e nessa lonjura de diálogo tenso,
o jumento corria mais.
Eu me vi numa situação sem jeito.
O espinheiro chegando perto
e eu não conseguia parar o burro vingativo e esperto!
pois não sabia se o comando certo era hiiii! ou ts ts.
Nessa peleja desmedida
eu fazia os dois ruídos,
confundindo o bicho!
pensei: Tô perdida!
Quando a tragédia estava prestes a acontecer,
em poucos segundos que me pareceram vidas,
e eu me vi com o rosto esfacelado...
Tive a certeza que não mais veria o amanhecer.
O temor de ficar desfigurada
gelava até meus ossos e todos os nervos do corpo começaram a endurecer.
Fiquei angustiada!
Mas, o burro de repente parou, assim, do nada!
Baixou o pescoço e foi simplesmente...
Comer arbustos do chão, Ora! que demente!
Eu que já estava quase conformada
a viver uma vida penalizada,
não esperei aquele comportamento abrupto
e passei direto pela sua cabeça de burro
me estatelando no chão!
Deu-me uma crise de riso
e rolei de rir naquele barro vermelho e cheiroso...
Nunca mais esqueci esse evento horroroso.
Sempre lembro desse momento terroso!
Onde o esperado foi totalmente inesperado,
bom, mas doloroso!
Dedicado ao meu irmão, Galeno. (eu bem que te avisei! rss)
o mais importante não se conta, se constrói com o não dito, com o subentendido, a alusão”. (Piglia)[/color][/color]