FILHOS DO DIVÓRCIO
-Papai, você sabe que dia é hoje?
-Você sabe quantas horas são? É meia noite, acaba de bater no relógio da matriz.
-Sabe porquê estou lhe escrevendo? Porque hoje, ou melhor, ontem completei os meus dez aninhos.
-Papai, eu sei que não é hora de criança ficar acordada e tenho certeza que você ficará muito zangado. Mas, acontece que hoje, depois de todos esses anos que você nos deixou, este dia parece ser o mais triste de todos.
-Ontem acordei bem de manhãzinha, olhei aquela foto, quando eu tinha dois aninhos, você me segurava no colo e sorria para mim. Eu também sorria para você. Tente se lembrar! Eu já tentei, mas não consegui relembrar, é claro, eu era tão pequenino!
-Sabe papai! Fiz mil planos para a noite, aguardando você para cantar comigo os parabéns e dar aquele soprão legal nas velinhas, que somente você sabia fazer. E, no entanto, você não chegou, você não se lembrou ao menos de me telefonar, lembrando-se que existo. Que um dia, debruçado sobre o meu berço, dizia que eu era a criança mais querida do mundo.
-Na verdade, você deve ser muito ocupado, atarefado, com compromissos sérios e inadiáveis. E quem sou eu, para poder roubar o seu precioso tempo! Mas agora por estas linhas saiba que muito senti, pois queria tê-lo comigo neste dia que passou.
-Durante esses cinco anos que você e mamãe separaram-se, eu nunca mais vi você, e isto faz com que eu sofra muito.
-Papai! Você para mim, continua a ser aquele paizão, de todas as horas, eu jamais esquecerei você, mesmo que continue com toda essa raiva de mim, embora, que culpa tenho eu, se assim quis o destino. E mesmo, que jamais possa vê-lo, possa abraçá-lo ou dar-lhe um beijo, continuará sendo o meu arco-íris, sei que você existe, mas não posso tocá-lo.
-Desculpe-me, papai! Por ter tomado o seu tempo, e estes pingos na folha não são do orvalho, são dos meus olhos.
-Adeus!
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