(Re)começar...
O tempo insinua-se no murmúrio da noite
a musica envolve o sonho
ruas perdidas de sono nu
o mar o céu o sol nos desejos
as florestas virgens desvaneceram-se
as cores do mundo
os cavalos selvagens
e as madrugadas tardias
nas manhãs calmas
em dias de desespero
o pão na mesa
vazia a corrida
para o lugar
de imagens soltas
assim o vento selvagem
sangue estival morno de medo
uma papoila e um vestir de
negro
n
ã
o
luto
a vontade arrefece
a dor ímpia reclama
o suave e cálido
perfume
de um morango esquecido.
As maçãs
espumam de vermelho
enquanto os corações ardem nas fogueiras que não fizemos.
O gelo derrete-se
nos beijos pe(r)didos
nos acordes de guitarra do
tentar esquecer
então
um mar de laranjas geladas
um chão sem tecto
no olhar de vidro transparente
(e o nevoeiro esconde os barcos)
(o) rio
um riso sem nome
as gaivotas limitam o meu horizonte
nada se liga
onde está o querer?
O sol põe-se quando eu tiver partido.
O regresso
e o desencontro
num olhar
que não sei.
Os regatos exigem frescura.
Quem me abandonou?
Candeeiros vermelhos
um quarto perdido
mãos sem prisões
o apelo da vida
um grito rouco
NÃO RECUAR
SER
um pássaro livre
um sorriso diferente
o amanhecer
um rio sem tréguas
o princípio
a corrida
a noite tranquila
no momento
agora
os espelhos partidos
não reflectem as imagens cansadas.
O sol encheu a cidade de alegria
e as crianças partiram em busca dos jardins líquidos
há sons no ar
viajar
pelo sentir
ir de encontro ao muro
e continuar
(todos os muros são destruíveis)
quebra-se o (en)canto
as gargalhadas encontram
o eco no silêncio
calado
da escuridão tardia.
Os cabelos
esquecem-me
os amigos
castanho-dourados
esvoaçam
sem fronteiras
ultrapassam
limites
(que eu criei?)
A resposta está no Outono
nas folhas caídas
no amarelo
das flores.
A tempestade destrói os caminhos.
Um olhar de mel
olhos castanho-avelã
sangue nos telhados
luz nas espadas cintilantes
caiu uma estrela
rebentou uma nuvem
liberdadeliberdadeliberdade
um aspirar fundo
duma violeta em água
luar res-plan-des-cen-te
o inverno tem todas as estações do ano
a musica reabre a ferida
resfolga o cavalo alado
pela
mutilação das asas
borboletas
em
festa
os salgueiros dão-me paz
num viver exaustivo
de confusão e sal
a chuva não vem
o sol desertou
tremores febris...
Amanhã
o momento é importante
uno
principal
pensamentos translúcidos
agitam-se
num acenar de adeus
definitivo
a fuga parece a solução
(a guerra continua)
PER-MA-NE-CER
não se esqueçam do frio
dos vagabundos
e dos artistas.
Lentamente, o azul confunde-me:
mistura-me com a noite
e parto com a musica.
AnaMar