Lembro-te!
E,
numa tentativa de Verão
percorro todos os olhares ternos,
sem descanso
avanço indiferente
à certeza da tua partida
e
suavemente
as palavras brotam
de musica proibida,
perfume efémero,
algumas pétalas secas,
as lágrimas que hoje não sei
porque
as
esgotei,
um raio de sol cai direito
ao peito,
em ferida
a memória de um amigo,
perdido
num mar de côres por inventar.
Apanho uma lágrima quente
com mãos de jogar às "cinco pedrinhas".
Por instantes o tempo pára,
recua,
avança
sem medo.
A dor é um sorriso por ti,
as palavras que já não temos
e os rios de espelhos que jamais
atravessaremos.
Fecho os olhos com força, para que as lágrimas não me traiam.
Suave libertação em palavras antigas.
Perder-te é impensável
assim como
materializar os teu sonhos
num
pedaço de papel
em quadros de luz
e fotografias
a preto e branco
ou muito simplesmente dizer
vou
ter
saudades
tuas.
AnaMar
"Cadernos de capa negra"; Março/94 Dedicado ao meu amigo Sérgio Eloy;