Quando você foi embora, eu tive que me livrar das coisas que me lembrassem, que me trouxessem você.
Então tirei os quadros do meu quarto, mas a imagem sua permanecia nas cores. Despintei as cores, mas a lembrança sua teimava em ficar no reboco sem vida das paredes.
E ainda existiam os móveis, a penteadeira, os perfumes, as cortinas... e você!
Arranquei a penteadeira, queimei a cama, joguei fora os perfumes. E tudo ficou vazio...
E no vazio de tudo, no vazio de mim, permanecia ainda você.
Arranquei as lembranças dos teus olhos, o gosto dos seus beijos, o cheiro do teu corpo, a cor do seu riso, e chorei, para jogar fora também as lembranças dos teus olhos... e sorri, para jogar fora também as lembranças dos risos dos seus lábios... e tudo ficou vazio.
E no vazio de tudo, no vazio de mim, permanecia ainda você.
Arranquei o vazio, arranquei meu peito, destitui meus passos, cortei meus pulsos, morri!!!
E tudo permaneceu ainda mais vazio...
E no vazio de tudo, no vazio de mim, incrivelmente permanecia ainda, você!