Prosas Poéticas : 

Velho

 
Sabe-me um rosto pesado, sobrancelhas brancas endividadas na descrença... Uma mágoa desfolhada e este carregado só, velho assim... Arrepender de culpas, motivos do pretérito e uma vida disforme de sentires... A água, turva de ansiedade, agita-se pela partida e apenas por ela... Tantas foram as vezes que disse adeus, ouvindo-me a mim... Oscilava entre solidão, pasto duma morte cobiçada... Era ela e eu, trocando mensagens e vergonhas... Nada de outros, gomos contados dum coração avariado... Amargo fruto, aponto os comprimidos da semana e os seus minutos... Dizem que me fazem bem, os senhores da bata num tom asséptico... A alma há muito que pouco diz, atormentada nos equívocos dos dias, os outros e estes... Não me importam as horas, de que valem elas neste tempo... Os “verdes anos” passaram...


«Antes teor que teorema, vê lá se além de poeta és tu poema»

Agostinho da Silva

 
Autor
bruno.filipe
 
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