Esperei por ti
embrenhado no quebranto do tempo,
num sortilégio de horas
volvidas de ausência,
intermitentes
medonhos martírios
num medo que não viesses.
Embalde... numa escuna de amor
endereçei a vontade de viver
à afeição da fantasia,
e sonhei-te a voz
na espessura dos sentimentos,
invento a tez dos ímpetos,
desvendo-me o inconstante
e as feições da saudade,
procuro no despeito das feridas abertas
o dia novo, tu
... que eras a filigrama da minha emoção.
Esperei-te à porta
de cada dia seguinte,
com a fé ainda húmida de forças
num cenário pintado de sorrisos fugitivos,
dançarinos como as imagens da memória...
esperei o abraço dos teus olhos
em rodopios de paixão e passado.
Vieste um dia na intimidade,
tinhas a expressão do delírio
e um sol de alecrim
correndo o corpo.
Sumptuosa, a sedução ungiu-nos
num espasso de néctar,
de novo mimamos os olhos
com os nus carinhos,
diluídos no sublime
e no movimento dos instantes.
Foste breve na estadia
e num esgar de luz
devolveste-te ao longínquo.
Ias como um barco
que perdeu os remos
e que ao ver-se débil
nas zangas do destino,
cisma em hibernar...
Esperei-te enfim
no fémur das horas sonâmbulas,
na verdade do pensador.
Pelo enternecimento, meu amor
os desejos lacram a carne por dentro,
os mesmos que a boca maquilha disfarces...
Esperei e vou esperar mais ainda
porque eu amo-te sem cautelas,
sem peias nem desânimo,
em todas as loucas angústias
até ao fim de mim.