FILHA - Papá, posso sair a mais uns amigos esta noite? Vai ter uma banda fabulosa a tocar no bar!
PAI - Que é isso minha filha, tu ainda há poucos dias estiveste no aniversário da paulinha!
FILHA - Mas papá, todas as minhas amigas têm saído e ido nesses bares de diversão.
PAI - A noite é para os vadios!
FILHA - O papá ainda vive muito no antigamente!
PAI - Foi assim que me ensinaram é assim que vos ensino!
FILHA - Mas papá, sabes que eu preciso de refrescar ideias para continuar meus estudos!
PAI - Tomas um banho de água fria que isso passa-te já.
FILHA - Eu prometo que chego a casa cedo. Bem perto da meia-noite.
PAI - Meia-noite?! Eu ouvi direito?! Já te disse que a noite é para os vadios ou para os morcegos! Vai para o quarto estudar, pois lá é que aprendes.
A rapariga deu-se por vencida e, entre uma lágrima e outra, lá se conveceu que tem um pai duro de vergar. Entretanto, o filho mais novo dirigiu-se ao seu pai, que estava estendido no sofá, a ver um episódio da série dos Serranos, e disse-lhe:
FILHO - Pai, vou sair, vou a um bar da ribeira ter com um people, beber uns canecos e depois quem sabe se o isco pega mais uma vez.
PAI - Vai meu filho, sabes que tenho muito orgulho em que sejas um homem a sério, um macho. Outra coisa: tu dá-lhe nelas ,e não perdoes! Elas têm de saber quem é que construiu o mundo!
A filha que tinha o ouvido atento à conversa, logo que o seu irmão saiu, foi ter com o seu pai e ripostou:
FILHA - Não é justo papá, ele faz tudo o que quer e tu apoias-lo, e eu que fique a olhar o tecto do quarto!
O pai da rapariga desta vez sensibilizou-se e, para não ser o mau da fita, não ser acusado de machista, disse-lhe que sim.
PAI - Mas só desta vez, e sou eu quem te levo até à porta da discoteca e espero por ti no carro para te trazer de volta!
A rapariga deu um salto e foi ligar às amigas que já estava no ir. Pelo caminho o seu pai deixou-lhe uns alertas com frases bem prensadas para que ela não se esqueça que anda por aí uma cambada de matulões que só querem é arrancar pedaços das raparigas indefesas. Chegaram ao local.
Enquanto o patriarca esperava a sua filha dentro do seu carro, ouvindo uma música ligeira, com meio vidro aberto, o ar do verão a entrar, mordendo um cachorro que comprou na barraquinha ao lado da discoteca, observa o comportamento de vários rapazes, aos abraços e beijinhos.
“Uma pouca vergonha”, intuia ele enquanto abanava a cabeça daquele jeito de inconformação que nós sabemos.
No meio daquela balburdia de mãozadas nos rabos uns dos outros, grandes slallons com as ancas, percebe uma palavra vindo de um dos maricões:
- Ó bijouzinho, vê lá que se faz tarde!
- “Bijouzinho!” - Riu-se cínicamente o homem, por nem ao diabo se lembrar de tal pouca vergonha, nomeadamente de macho para macho - Estamos no fim do mundo!!!
Bem, a garota chegou ao carro ilesa, aparentemente, claro, já que, resultados, só após uns bons pares de meses; foram-se embora com destino a casa.
Chegaram perto da uma manhã. O homem vinha cansado como só a tropa o cansou.
Entrados em casa, a rapariga subiu para o seu quarto enquanto o seu pai ficou mais um pouco na sala a esticar as pernas, tomando o seu copito antes de ir para o “choco”.
A televisão ligada mas sem ouvir patavina, o sono a tomar conta dele, a ser embalado como um menino, entretanto, lá fora, alguém pára um carro no lugar vago de estacionamento, em frente à sua casa.
Curioso, num salto calculado, foi espreitar por entre o cortinado. Era o seu filho, aos beijos e amassos dentro do carro.
- Ah, valente! – Falou alto o orgulho do pai.
Não querendo incomodar, voltou-se a sentar no sofá e, assim que bota as nâdegas no tecido esfarrapado do sofá, outra vez o sono e o cansaço juntos, os olhos quase a revirarem, quando, escuta uma voz vinda de lá de fora:
- Xau bijouzinho, amanhã voltamo-nos a ver!
O homem, apesar de ensonado ainda captou algo que lhe pareceu ter ouvido nessa noite, esfregou as orelhas, olhou o copo vazio, a televisão com o ruído de final de emissão e, meio taralhouco pela sua sonolência, disse baixinho:
- Bijouzinho?!!! Ou é de mim ou este whisky deve estar estragado!