"Louvadas sejam as mulheres"

Adivinha-se nela,
Um sorriso que não se vê,
Porque lhe é proibida a entrega.

Naquele rosto de mulher,
Como se fora esculpido,
Um sorriso teimoso chega até nós,
Quer eles o queiram ou não…

Vem camuflado,
Infelizmente não chega puro,
Nem colorido pela luz da alegria.
Mas aporta em nós,
Conspurcado por uma mágoa incontida,
Martirizado por uma grande nostalgia,
Mas toca-nos profundamente.
Como se fora uma brisa leve e fugaz.

Vem disfarçado,
Através de um olhar profundo,
Com que aquela mulher teima à revelia,
Fazer chegar uma mensagem,
De paz e de esperança,
Mas que no fundo, não passa,
De uma súplica disfarçada,
De um pedido de ajuda.

A força com que o faz é tão grande,
A evidência da sua fraqueza, tão flagrante,
Que ninguém pode deixar-se ficar indiferente,
Mesmo que o queira disfarçar,
Perante a adversidade tão grande,
E as circunstâncias aviltantes,
Do meio que a rodeia,
E no qual tem que viver.

De uma forma incontida,
Com delicadeza, embora,
Ela claramente denuncia,
Aquilo que por ser tímida,
Não ousa dizer,
Nem sequer, em segredo.

É por medo, que não o faz.
Teme a razão atenta e voraz daqueles homens,
Com quem a vida a obriga a conviver.
A sociedade tradicional e preconceituosa
Assim lhe exige.

Não lhe é consentido expor,
Nem por um segundo,
Os sentimentos que lhe sustentam o corpo.

Pura perfídia!

Nasceu e cresceu assim,
Porque foi assim que lhe vaticinou a sina,
Viver abrigada por véus,
Coberta por trapos,
Que mesmo que os outros queiram,
Não lhe tapam o duro pesadelo.

E conduzida por uma força,
Aquela de um fanatismo religioso e sem sentido,
Anacrónico e punitivo,
Voraz e maldito,

Mantém-se coberta,
Como se fora um castigo.
Qual o seu crime?
Ter nascido mulher,
Mas assim vivem elas todas,
As mulheres do seu tempo,
E suas antepassadas.
Há séculos,
Sem que nada mude…

Quem sabe, se um dia,
O vento forte da revolução não chega,
E não vai deixar ficar um só homem impune.
De repente, como uma força imensa,
Varre aquela força demoníaca e inconsistente,
Que durante muitos anos vagueou,
Por entre mentes perversas e machistas,
Que exerceram o seu domínio,
Em nome sabe se lá bem de quê?

Como searas que ondulam no campo,
Em tempo de solidão,
Bem à nossa frente,
De forma tão leve, quanto elegante,
Lá vão elas, essas mulheres vivendo a vida…

Só Deus, sabe afinal,
E não os homens,
Quanto cada uma delas é um ser superior.
E como há visibilidade nisso.
Tanta transparência…

Não há poeta que não se queira audaz,
E não o denuncie.
Como se pode ficar indiferente,
Perante estas musas,
Mães e companheiras,
Amigas leais e confidentes
Não é um estranho sacrilégio
Que se comete frente a estas mulheres?

A graça invisível que trazem no rosto,
É um incentivo,
Uma fonte de inspiração eterna,
Contrariamente ao que pensam,
Os seus companheiros,
Que não as deixam olhar para ninguém,
A dor não repele.

Os seus olhos,
Falam em silêncio,
E mergulham tão profundamente,
E tão plenos de sofrimento,
Nos olhos das gentes.
Indiferentes?
Engano puro.
Estas mulheres não são prisioneiras,
São jóias perfeitas, ainda por esculpir.
Mesmo tapadas até aos pés,
Elas são musas,
Anjos do Céu.

Nenhum pintor, escultor, ou descrente,
Quem não iria reconhecer,
Que só podem ser louvadas, estas criaturas,
Que vivem acorrentadas pelas mãos dos homens,
Mas livres de pensamento, sempre,
Assim ficou escrito pelas mãos divinas, afinal.

Vivem agrilhoadas pela tradição,
Pela ignorância,
Pela perfídia.
Não perdoeis Senhor,
Aqueles que as mantêm assim cativas,
Ímpios que julgam poder tê-las,
Mas que não as têm.
Eles sabem o que fazem,
Não sabem é quanto já estão a perder!

São vítimas algumas mulheres,
Vivem estigmatizadas pelo fanatismo e pela ignorância
Pelo peso das circunstâncias.
Mas elas são, e todos sabemos,
Não podemos ignorar,
Iguais às outras mulheres,
Seja qual for a sua condição e origem,
Porque toda a mulher é uma obra –prima de Deus!

Louvadas sejam, então, todas as mulheres...

Beatriz Barroso