Poemas : 

sou um louco que sabe tocar acordeão (3)

 
POR VEZES DOU DE BEBER AOS PÁSSAROS PELA MINHA BOCA; dou de comer aos canibais pela minha mão.
há quem diga que os loucos não mentem...eu digo:
os loucos sonham em ser muitos.
eu por mim sou Eu mais o Eu que hei-de parir;
pela circunstância da noite fria perguntar-lhe-ei as horas



ÀS VEZES confundo arte com conhaque
Arte é dor que vai doendo
Conhaque é conhaque
Que pensará o fósforo quando se acende?
Realmente é tudo uma questão de se lhe perguntar
Um velho acamado espera a sua justiça
As infâncias raramente se acham
Nada tem de negativo
É apenas uma questão
Que terei de colocar a um fumador de charutos
De preferência cubanos
Com Havana em espiral movimento
E o Fidel quase morto ainda aceso

Ponho um lápis na orelha
E finjo-me poeta
Terei de rever as minhas análises
O sangue perfeito
O motor ainda dá
De amores não acusa nada
Na gaveta tenho inúmeros verbos
Se calhar mal conjugados

Arrisco?
Às vezes dou uma passa no cigarro e aperto os lábios
Tiro fotocópias à minha cabeça e falo com ela
Do duplicado escolho o mais feio
Fico então com a impressão que a escolha é de arte
Depois de ler Cruzeiro Seixas vejo que não
Que não há arte nenhuma nos cabelos que ficaram
na lente da fotocopiadora

Os monstros são só para criar cenários
A pornografia é um estado de alma
E Galileu tinha muita alma com certeza
Os versos das meninas do bar sete são compostos por exageros
Empastam a tinta entre os dedos
Sujam seus caracóis e publicam mesmo assim
Depois do editor cometer o seu crime

Um ladrão ao dar-me um esticão no saco levou-me o braço
Por sorte nasceu outro braço no lugar do outro
Acha que isto é arte?
Estou farto de dizer
Arte é o desenho que faz as varizes
E conhaque é a mesa misturadora dos egos e super egos
Passe bem!
 
Autor
flavio silver
 
Texto
Data
Leituras
1177
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
6
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
sisnando
Publicado: 15/03/2009 22:00  Atualizado: 15/03/2009 22:00
Membro de honra
Usuário desde: 21/10/2008
Localidade:
Mensagens: 1114
 Re: sou um louco que sabe tocar acordeão (3)
Epa, para um louco que sabe tocar acordeao.Nao misturas mal o conhaque com arte!
Gostei de ler, muito interessante do ponto de vista criativo!
E continua a alimentar canibais com a mao, mas com muito cuidado ;)!
Abraço

Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 15/03/2009 22:29  Atualizado: 15/03/2009 22:29
Membro de honra
Usuário desde: 25/01/2009
Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 18598
 Re: sou um louco que sabe tocar acordeão (3)
Intrigantemente interessante esse acordeão.
Um brinde ao louco poema!


Bjs

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/03/2009 23:44  Atualizado: 15/03/2009 23:44
 Re: sou um louco que sabe tocar acordeão (3)
A tua poesia é extasiante!

Diria que és um "louco" que sabe escrever...


Bjs

Luisa Raposo

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/03/2009 00:16  Atualizado: 16/03/2009 00:16
 Re: sou um louco que sabe tocar acordeão (3)
louco?! não! acho mais que é exagero de conhaque. pois arte mesmo; é o desenho que faz as varizes, e o que os poetas escrevem bêbados ou sóbrios.

fraterno abraço poeta.
Silveira

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/03/2009 15:09  Atualizado: 17/03/2009 15:09
 Re: sou um louco que sabe tocar acordeão (3)
Boa tarde, Flavio.

Como comentei a parte 2, não poderia deixar passar em branco a 3.

Noto uma certa rebeldia em suas palavras, até irônicas e em construções metafóricas.

Mas creio que você precisava dizer isso, se bem
entendi, alfinetando também a arte natural, separando-a da arte intelectual.

Sóbrios, não sóbrios, o que somos senão
loucos observando dum cantinho qualquer, desnotados, a comédia humana?

Aí reside nossa arte no escrever ou no tocar
sei lá o quê num instrumento (acordeão).

Teu texto, como de costume, bem sincronizado,
refletindo teu estado d'alma.

Parabéns por compartilhar e incitar-nos
à leitura.

Assim interpretei.

Abração.

rege