O teu poema é feito
das coisas que a noite
esconde por detrás dos
segredos inaudíveis
que, imagino, povoam
as cabeças ocas de
raparigas desembaraçadas
que vigiam as esquinas
da miséria de perna
em riste contra as
paredes sujas de grafitti
Eu sei, conheces
as escadas que desço
no escuro e acabam
em ruas desertas
sem relógios pendurados
e candeeiros fingidos
que dão luz apontando
directamente às palavras
que envias no vento
quando fazes gestos
despudorados e atraentes
para compor o cabelo
acabado de espigar
com os maus tratos
porque não tratas de ti
e só as unhas disputam
cuidados, vernizes e olhares
sem cor nem cheiro
dos teus dedos
pequenos quase de mulher.
Sou apenas igual
vivendo a hora
que ainda é certa
mas se extingue
nesse horizonte
da uma noite que
não pode enfrentar
a luz do dia.
Reflexos
Wim Mertens