Poemas -> Desilusão : 

DESABAFO

 
Ao Deus verdade ou mito /
Que existe ou consiste no infinito /
Escrevo o meu libelo poema /
Pois não é justo esta era ser julgada /
Pelos mesmos padrões da era passada /
E estes versos são o teorema...

Não é justo julgar com igualdade /
Em várias eras a mesma humanidade /
Há que se levar em conta tempo e espaço /
Para que todos com parcialidade /
Gozem o bendito céu da cristandade /
Um peso e medida só é muito escasso...

Era mais fácil viver sem odiar /
Na noite antiga, serestas a cantar /
Sob a pálida luz de um lampião /
Lua de hoje não inspira serenata /
Lua de hoje é meta de chegada /
Onde Luniks e Apolos pousarão...

Corpo a corpo ontem eram as guerras /
Para a conquista ou defesa das terras /
Os generais garbosos lá na frente /
O átomo foi então desintegrado /
E manobrado em teleguiados /
Matam soldados generais ausentes...

Destrói, não destrói, eis a questão /
Da nossa era em decomposição /
A radioatividade pairando pelo ar... /
E os seres desta era clamam aflitos /
Não sei se revoltados ou contritos /
Pelo simples direito de respirar...

Ah ! O ar puro dos campos, inalado /
Nas manhãs de tempos tão passados /
Dos convescostes alegres da vovó /
Os saraus, os acenos, o “bom dia” /
Que desconhecem os da geração vazia /
Que por ter mais gente está mais só...

A cibernética facilitou a vida /
Paradoxalmente mais difícil de ser vivida /
Ao toque milagroso dos botões /
Porque o ser humano vaga renegado /
Na parte material sempre lembrado /
Mas sempre esquecido em suas emoções...

Os cedros do Líbano se extinguindo /
Parecendo profecia admitindo /
Que dos tempos chegamos ao final /
Guerras, mortes, doenças, invasão /
Crianças morrendo por inanição /
É todo dia manchete de jornal...

Por isto, Deus verdade ou mito /
Se nos julgares, como está escrito /
Não coloques no prato da balança /
Os desvairos e a nossa omissão /
Na fé, no amor, na dor, na compaixão...

Somos a geração sem esperança...

 
Autor
niltonmoreira
 
Texto
Data
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1845
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