A casa estava um desalinho só, há já alguns meses. Talvez desde que o ser de olho único o abriu para a paisagem, mais ou menos desde o dia em que os pirilampos se constiparam, na mesma altura em que a sombra do pintor saiu das trevas e escrevinhou. As tarefas domésticas passaram a acumular sistematicamente desvios de Planeamento.
Mas os tempos iriam mudar, ventos de Norte, Este, Oeste e Sul milagrosamente desocuparam o Balcão, forçaram as portas dos armários a fecharem-se, momentos antes das outras se abrirem de par em par para os ilustres.
Chegaram cheios de vida, de cor, de texturas, de paletes de sentidos e com vinho bom para regar o convívio. De sentimentos de amizade e partilha se fez o encontro dos artistas com a natureza verde vivo que a paisagem oferecia. O sol radioso também enquadrou alguns momentos de pintura realista feita de petiscos e delicias, preparados a preceito por pares de mãos contentes.
Entre rios de riso, mares de melodias, cachoeiras de pintura e lagoas de poesia cintilante se passaram dois dias do conluio a favor das artes.
No fim a saudade antes da partida pinta um quadro de amizade pura a salvo de qualquer loucura.
A solidariedade feminina é que já não é o que era, pena…