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Dividido Sábado á noite

 
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O ruido envolve-me e deixo-me embalar por ele.
As diferenças, tantas, suaves ou abruptas, a adoçar uma vida que se quer cheia.
Apenas com um olho meio aberto observo as belezas eternas que sempre me rodearam.
O olho cerrado é o descanso da alma e continuadamente projecta interiormente uma realidade que tarda em acontecer.
Navalhas verbais cortam as asas ao pensamento e antes que o sangue coagule no solo elas voltam a crescer. A descontinuidade da nossa pequenez torpemente corta uma evolução que se crê natural e essencial. Agarrados a um qualquer calendário encontramos razões para não fazer melhor e tudo continua como antes, morno, insonso, á espera de melhores dias ou energias.
Duas ou mais forças chocam e novas coisas acontecem somente devido ao choque e melhor que lamentar o dito seria aproveitar a energia, dinâmica, inércia do mesmo para fazer algo de constructivo.
Um nevoeiro denso cobre as cabeças e o cheiro a medo é de tal ordem que os cães são os donos do mundo. Ladrando alto, de pelo hirsuto no cachaço e cauda erguida mostram o seu dominio quando afinal o que precisavam era dum pontapé na cachola que os metesse no sitio deles.
Porém parece esquecido o adágio " Cão que ladra não morde", e vejo cada vez mais de nós presos e assustados por cães que nunca conheceram dono.
Ama-se a medo e amedronta-se por amor e tudo azeda.
Passados os momentos queda-se uma sensação de vazio e futilidade pretenciosa e aquilo que nos deixou ansioso acabo por se transformar em porta fechada sem ter tido oportunidade de concretização. A facilidade com que nos auto-consumimos na esperança de a nada nem ninguém consumir é uma pura utopia de classe média sobre-educada.
O mundo é vivo, pulsante, forte, agressivo e implacável e a Vida é tão terrível quanto maravilhosa e quem se recusar a aceitar as dores de estar vivo mais valia que o não estivesse.
A Morte como solução duma Vida mal-aproveitada parece-me uma solução viável, serei eu desumano?


A necessidade estará em escrever ou em ser lido?
Somos o que somos ou somos o queremos ser?
Será a contemplação inimiga da acção?
Estas e outras, muitas, dúvidas me levam a escrever na ânsia de me conhecer melhor e talvez conhecer outros.

 
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Paulolx
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