SEU MESTRE FOI O SOL E A ÚLTIMA PROFESSORA A LUA DA SAPIENCIA
PAGOU COM A PELE A DÍVIDA DO SANGUE, NA MAIS LOUCA PENITENCIA
NO CEU PINTOU O QUADRO DE SUA DOR RETRATO TRISTE DA INCIDENCIA
VEM SEGUINDO O CAMINHO QUE A VIDA RESERVOU PARA SUA EXISTENCIA
NEGARAM-LHE A FÉ, CRENÇA, DERAM-LHE OUTRO PREMIO DA INTELIGENCIA
NÃO OUVIU CANÇÃO, PERDEU O TREM, A TRISTEZA TEVE SEMPRE PREFERENCIA
TRABALHOU NA ROÇA, NA CAPINA E NA DESTOCA, FELICIDADE ERA SEMPRE AUSENCIA
ESPALHOU PANFLETOS, BRIGOU COM A POLÍCIA, ASSISSTIU À MISSA E FEZ OCORRENCIA
SEMPRE CALADO, DE POUCAS RISADAS, PERNAS AFIADAS SEM SORTE, POUCA COERENCIA
SE BENZEU NA PIA, SE BANHOU EM ÁGUA BENTA, ABRAÇOU SEU FILHO COM ADVERTENCIA
FUGIU DO LAR, MOROU NO BECO, DORMIU NA RUA, SE FARTOU TRISTE DA SUA RESIDENC IA
FOI ASSALTADO, LEVARAM NADA, ERA TUDO QUE TINHA, SE MANTINHA LONGE DA VIOLENCIA
CRIOU SEU CORPO NO BERÇO FRIO DO CHÃO, CORAÇÃO PARTIDO POUCA VIVENCIA
NÃO TINHA O DIREITO DE MORAR AO LADO DE ALGUÉM, VIDA DE PURA CARENCIA
CAMINHAVA TRISTE, OLHOS FECHADOS, BOCA SERRADA, DIREÇÃO DA URGENCIA
SITUAÇÃO NORMAL QUE FICOU, ALÍAS, NUNCA HOUVE, FOI TUDO EMERGENCIA
ACORDOU DE UM SONHO FRIO, NEM VIU TUDO QUE ACONTECEU, SONOLENCIA
ENTRE OS CAMINHOS, PÉS NA ESCURIDÃO, CABEÇA NO CÉU DA TURBULENCIA
NENHUMA CULPA, A VIDA FEZ DELE O RETRATO DA TRISTEZA E DA REFERENCIA
FALAVA DE LADO, MIRAVA O CHÃO, POUCA CORAGEM, NENHUMA APARENCIA
DA VIDA NADA SABIA, HOMEM SEM BRAVURA, SEM TERNURA, SEM ESSENCIA
ROSTO CONFIANÇA, DESCONFIADO, COM ELE NINGUÉM TINHA PACIENCIA
LEVA DA VIDA MARCAS PROFUNDAS, SORRISO TRISTE, POUCA INOCENCIA
MOÇO DE OLHARES TRISTES, PASSOS APRESSADOS, SEM ADOLESCENCIA
CAMINHAVA PRO CERTO, PERNAS LOUCAS MARCHAVAM PARA O ERRADO E A VIDA CHEIA DE TANTA DIVERGENCIA
NUNCA FALAVA TUDO, FICAVA CALADO, JEITO DE GRITAR GRITO CALADO, BEM LONGE DA VERDADE, JEITO RETICENCIA
APRENDEU COM O ACASO O CASO MAIS CERTO, LUTOU TODOS OS DIAS, TODAS AS NOITES E NUNCA A DESISTECIA
NASCEU DE UM AMOR TORTO, NÃO TEVE TÍTULOS, NÃO TEVE AMORES, RAPAZ DO SUL, LÁ DO SEM PROCEDENCIA
FOI FECUNDADO NA MÃO, GERADO NO BALAIO, TEVE COMO BERÇO CAIXOTE DE MADEIRAS, BELA INEXISTENCIA
HERÓI DE NADA, POBRE IRMÃO BRASILEIRO, FILHO DA LUTA, MELHOR FOSSE FILHO DO NADA, DA RESISTENCIA
PASSOU POR RUAS SEM SOL, POR NOITES SEM LUA, DORMIU EM CAMAS SEM AMOR DE MISERÁVEL CONVIVENCIA
SEM SABER O VALOR DE UMA FOLHA QUE DESPENCA DO ALTO DA ÁRVORE VIVEU SÓ E SEMPRE A PERMANENCIA
DOS MAIS LOUCOS LUGARES, DOS MAIS PERTOS E DISTANTES, DO IR E VIR DA VIDA, LOUCA TRANSCENDENCIA
DE QUEM ACREDITA QUE MESMO NÃO SABENDO NADA DO AMOR, A VIDA, VIVE MESMO POR INSISTENCIA
QUANDO PECA POR QUERER, ACERTA POR CRER E VAI TOCANDO A VIDA, VENDO A MORTE, NEGLIGENCIA
BUSCANDO SEMPRE NO MEIO O FIM, SEM SABER O PONTO DO AMOR E SEM SABER O QUE É REVERENCIA
VENDENDO A FOME, DOANDO A ESPERANÇA, AMANDO AS BALAS, VIVENDO LOUCO A SOBREVIVENCIA
José Veríssimo