Trato de pelica,
Gesto de veludo,
Cortesia exuberante,
Ramalhetes, rapé,
Rodapé,
Lacre do mais rico,
Riso malandro,
Objectivando lucro,
Quem os veja,
Hirtos e frondosos,
Mijando fora do penico,
Não pode supor sequer,
Astuto
Empreendimento,
Que esta gente,
Com mui alento,
Põem em tudo quanto quer,
Deitar a mão,
Por sua assunção.
Diarreia verbal,
Veste-se de meretriz,
Gosta de sexo anal
E põem o dedo
No nariz,
Limpa na cueca,
Ganha na sueca,
Em noites infindas
De penetrante bacanal.
Oh, pobre gentinha,
A mim não me compram,
Vossas senhorias,
Dais-me pois algumas azias,
Mas não julgueis
Que por inveja vossa,
Que bem polida tenho a lousa,
E se por um acaso
De utopia se trata,
Antes isso e dignificar-me,
Do que vos dar o prazer
De andar, como vós,
Nesta vida à socapa.
Ficai assim
Nas vossas casinhas aprumadas,
Com o dislate
No escaparate,
Mostrai-me se quereis
Esse imenso rol de papeis,
Se tendes o dinheiro
Para os pasteis,
Que vos faça bom proveito,
Mas nessa cama
É que eu não me deito.
Mais que isso,
É esta certeza:
Com ou sem
Algoz,
Ornamentos,
Ou não,
Saibam vós,
De antemão,
Que, jamais, em dia algum –
Estai pois, alerta! –,
Sereis poeta.
Jorge Humberto
(31/03/2004)