Onde está o pássaro, que canta meu peito
Onde está a arte, que me faz pensar
Onde está o moço crismado, batizado
Virou um tolo, perdeu a filosofia, virou criança
Onde está o pecado que me faz cegar
Onde está a liberdade do prisioneiro morto
Onde está a mira que o olho furou
Apesar de todos que sofrem na fria grade
Onde estão todos que comungam de manhã
Onde está a escada que matou o pedreiro
Onde está a faca que feriu meu primeiro amor
Por quê o relógio bate lento todos os dias
Onde está a escalada da bala na mente fraca
Onde está a barreira da divisa final
Onde está a morte em vida que levamos sorrindo
Sempre disse sim às coisas da vida
Me acostumei a sentir tiros no ar
Ajudei a levar o corpo sem saber quem morreu
Já vi o soldado segurando o menino estraçalhado
Corri do corpo que secava pendurado no varal
Este mundo é grande e nunca sai daqui
Quando todos os homens do muro morrerem
Que virem as armas para o próprio peito
Sem pensarem na criança
Vou dar risadas ,se conseguir chegar lá
Vou dar passos largos,
Se ainda tiver minhas pernas , meus braços
Quero ver todo mundo rindo , se ainda tiver meus olhos
Também sou batizado, crismado e consagrado
José Veríssimo
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