Prosas Poéticas : 

Família

 
Nunca abandonar
Nunca esquecer.

Acendo uma vela ao sol
Pra requentar os cantos frios das paredes
Êxtase claustrofóbico
Rodopio desvairado e preciso desacatando autoridades.

Mundo vasto
Oceano sem fim e seus capilares
Mundo belo
Devasso múltiplos quase o oxímoro hiperbólico
Paroxismo são
Translúcida inspiração de incontáveis gerações.

Ah espírito meu
Cantas e te agradeço
Ah esta faísca negra
Volátil lógica antroposófica
Vícios de ontem e virtudes de amanhã
Uma cadência clara e nítida
Nítida como a paz violeta
Cristalina como o gozo vitorioso
Ardente como o urro jubiloso
Ah infâmia de minha comoção!
Secreta nestes versos úmidos
Lava escorrendo garganta afora
Sol e horizonte rindo-se em sombras
Céu e sal em beijo fétido pai e mãe
Nossa benfazeja e vulgar fedentina
Ai dos meus banhos
Encanados
Contidos por torneiras
Guilhotina conta gotas
Cifrando cada toque
Atribuindo preço
Sem o devido apreço.

Quanto custa isto?

Isto
Sim
Isto quem vos fala momentaneamente.

Quanto custa estar eu aqui concentrado em digladiar comigo mesmo num aquário poético?
Sai-te de graça ler-me?
Pergunto-me
Será que alguém lê?
Já isto felizmente não importa
Leio-me a mim
Vejo meu momento
Erguer a cabeça
Fluir fôlegos -
Tem preço isto?

Mas sim
Dirão os honestos
O tempo como única corretagem do amor se faz vendável também -
E num susto
O que restou dos sonhos
Sou isto
Coração plangendo
Abominável deletrear de suspiros
Também a fineza do brado pungente
Riso tosco acompanhado de soco à mesa
Desconcertante desconsertância
A Verdade -
Se é que se permite ainda usar tais termos -
Cintilando
Cintilando gravidades e vôos
Em anedotas perfeitas
Em que os risos mergem
Cada um o perfeito artífice de si
E as florestas valsam
Juba brilhante de verdes e lázulis
Juba faunaflora do leão imperador.

Espaço e tempo
Citaria aqui em ditirambo um desesperado
Como que tentando se agarrar da mais básica suposição biogeoquímica -
Mas ainda assim o levitar parece possível
Como de algum modo perverso tudo também parece realmente possível
E se nada é proibido -
Ah bem
É tudo sempre caminho de ida ou de vinda ao próprio corpo.

Peremptório da organicidade
Vivaz ressonância do caos
Saúdo ao infinito
Agora e sempre
Sim a tudo
Sim.

 
Autor
alikafinotti
 
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Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 06/07/2009 20:16  Atualizado: 06/07/2009 20:16
Colaborador
Usuário desde: 12/07/2007
Localidade:
Mensagens: 1988
 Re: Família
...palavras precisas meu caro! palavras sábias!
aprecio esta tua forma de dizer as coisas!


abraço