Como caiem todas as coisas
que são atiradas sem olhar
para trás do campo de visão
sonhos, casas e corpos?
Sujei uma série de palavras
mal intencionadas, sem ter
onde pousar, com duas ou três
sementes de lama
que se hão-de transformar
em belas verdades
quando crescerem, mais tarde
sentadas nos joelhos
de um velho pensador
de silêncios de bailarinas
mãos soltas , atitude e pas de deux
que, à sombra desse alpendre
de uma casa longe
da imaginação de muitas
letras antes, desmonta
tricots de intrigas
maledicências de pendurar
atrás da porta nos dias
de nevoeiro que cercam
os tais ventos
onde fixamos
sonhos para ficarem
levezinhos até podermos
fugir com eles.
Diz menina, se sabes
para onde correm os barcos
(do poema anterior?)
que se perdem da vista
antes de caírem, sem remédio
no precipício além do horizonte
de janelas abertas
e sem destino.
Onde os lençóis amachucados
são de lavar à mão
cobertos que estão
de vida e ansiedade, espiritual
inacabada, do sono
das noites cúmplices passadas
no silêncio com altos
e baixos de arrancar pela raiz
ao encostar os ombros
sem tocar o corpo
dançando nos olhares em redor
irrequietos e mudos, que
esperam elogios sacados
de surpresa a pessoas
estranhas que contemplam
o meu interior à procura
da música de Debussy.
Agora vou, tenho de preencher
a solidão dos cabelos que não se
alisam sozinhos mesmo que
as memórias feitas
peçam com muito cuidado.
Reflexos
Michel Camilo