I
Ouve bem o que te escrevo
porque ando há tanto tempo
a juntar palavras para te dar
Como se nelas houvesse algo
de precioso ou que não pudesses
perder de novo, ainda mais.
Mas tu perdes todas as palavras
mesmo as que te caiem no
peito soltas e sem maldade
repetidas nessa exaustão que as
torna vulgares à vista dos
amores divididos,
Só porque não são ouvidas
sentidas, estimadas, tratadas,
consideradas, amadas....
Mas palavras - já to disse -
não tiram o sono aos sentimentos
que iluminamos em silêncio
quando fazemos amor.
Porque nos teus actos de amante
do desespero, sobra uma luz
que não brilha desviada por
estremecimentos de corpos
divididos e amachucados onde
já não está o teu reflexo, outrora
cheio de uma sombra de mim.
Não lamento amor.
Não te deixo tão pouco secar
as palavras que tenho para
dividir contigo no sussurro
que planeamos em segredo.
Antes que se peguem à tinta
das atitudes arrebatadas
que deixam marcas indeléveis
e frias de paixão irrepetível
e para sempre perdida em
gestos de amizade intencionais.
Não quero dar-te apenas palavras
Quero também o silêncio do
roçar de pele e das respirações
misturadas, inesperadas, originais
como são os actos de amor que
dividimos constantemente.
Será que tenho de continuar
a adiar palavras que nunca te direi?
E vaguear pelas noites aproximando
o desespero de não te ter,
com a certeza de te perder?
II
Invade-me a vontade de permanecer
nos olhares das mulheres que
vomitam, de olhos amarelos e
ideias fixas, abandonadas
pelo amor que não sei-dar.
A minha caneta secou e escrevo
com os contornos da imaginação
coisas lentas, sombreadas
olhares de maldade que disfarço
quando não estou sozinho.
Pétalas das rosas e agulhas do
pinheiro, o ciclo do carbono.
Percurso, luzes e notas soltas
caminhos onde aguardo o sorriso
com covinhas, de ver chegar
sem controlar a velocidade
do carro automático.
O lixo que varro da minha cabeça
a rede que não sou,a noite que
espero deitado nas horas
vazias das tuas ausências,
pernas finas, rabo grande,
peito lindo, desassossego,
mãos feitas para te agitar
os seios, imaginação e as
mesmas notas soltas de
branquear as emoções e
mentiras passadas com pontapés
de palavras, atiradas no vazio
dos corpos na
horizontal.
III
Vertical.
Agora sou vertical
não minto.
Minto, para uma mulher
com cheiro, porque adoro
cheiros e me perco nos caminhos
da tua acidez de palavras e movimentos.
Escuto o teu corpo em silêncio
e mexo-me para não o perturbar,
desligo o sentir quando estás perto
para não ver a luz que o mar solta
quando escurece, noctilucas
que me seguem na corrente de
música, estigmas, percurso
energias e tu, quando atiras os
olhares e abres a cortina das emoções
sob o meu corpo ansioso
para adormecer no nosso cansaço.
Ciclo das palavras, sementes, cheiros
que se cumprem em cada fonte de água
no deserto sem duvidas, onde vives.
Ora, eu sou uma dúvida, que gasta
as tuas energias, não sabes onde estou e
gastas-te a segurar-me
para que não pule no vazio
onde mãos de unhas pintadas me puxam
para os lábios onde mato a sede
quando estou só.
Reflexos
World Music
Nat King Cole & Natalie Cole