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Operária

 
OPERÁRIA
Inquietação, desassossego, solidão.
Aguentar a escravidão, do trabalho, dos deveres: mãe, companheira, cidadã.
Sentir a carga nos ombros
-do espírito a definhar
-das contas a pagar
-da vida a esvaziar-se
De sentido
De tempo
De beleza
Cerram-se os dentes, engole-se a raiva
Sorriso nos lábios espumando por dentro!
No fim do mês recebes a paga
Das costas vergadas, pagas as contas, ficas sem nada!
Ah, sonhos dourados
De bastança
De paz Liberdade Igualdade Fraternidade, companheira
Operária de supermercado
Vês as mercadorias a passar
Do camião para as paletes
Das paletes para as tuas mãos
Que as depositam
Nas prateleiras
Estéticamente
Para cobiçar
O olhar distraído
Do cliente.
Controlas as datas de venda
E as tuas mãos
Estéticamente
retiram a mercadoria
Fora de data
Para o contentor: seja carne, seja peixe, seja lá o que for!
E és despedida
Por roubo
Se o coração se aperta e não tens coragem
De atirar para o lixo
Os morangos apetitosos
Vindos de Israel pró Natal
Bem embalados, não comprados
E te fazem crescer água na boca.
Às escondidas sem ninguém ver
Engoles o morango enorme
Doce, bem cheiroso...e a câmara escondida estava a ver.
Fez-te bem não cumprir um dever
Fez-te bem deixares de ser mais uma roda da engrenagem
No mundo desumano
Da concorrencia. Zofingen 2002

 
Autor
Florbelaneto
 
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