Sua boca tem tosto de cana
Desse olhar retiro a força de touros
E sai do seu rosto a nossa estrada
E no seu corpo nasceu a minha morte
Seu passo é um relógio no braço
marcando o tempo de voltar
sua boca é vontade de gritar
o que o peito guarda, saudade com cheiro de tudo
Sua mão tem cheiro de panela
Sua rua guarda marca de canela
E no seu joelho tem marcas de pedras
Que me ferem a mente e me calam a alma
Me molha o peito a sua solidão
E a dor desse vazio é luz vadia
Fincada fina de faca grossa ao meio dia
Como poste velho, esperando a noite
Do seu fogão sem brasas vai nascendo o amor
Que preparado aos poucos com pouco fogo, queima
No molho da vida, tempero do tempo
Que calada, canta, chora na briga das latas
Menino na saia, lenço na cabeça
amor no peito, faca na mão
Lágrimas na boca, tempero na língua
E o gosto da salada no meu corpo
José Veríssimo