Acrósticos : 

A morte está perto! _ Guarda-me

 
Oh minha querida, as horas passam e a morte aproxima-se, sinto a rejubilarem em mim as lembranças e recordações de velhos tempos. Tantos passeios, tantas palavras sussurradas ao ouvido, em cada encontro uma maratona de beijos. Ainda te amo, sempre te amei, que malfadado destino o nosso traçado pelas mãos da distância e da ausência, que pobre vida enriquecida apenas por este sentimento que carrego dentro de mim.
Ver-te morrer nos olhos dos outros que te afastaram de mim, pecado tão grande esse, “por minha culpa, minha tão grande culpa…” e soletram palavras tão cheia ao deus que acreditam, essas bocas que me maldiziam, que me mentiam… Ver-te morrer assim e morrer contigo…
Sacudo a caneta que já não quer escrever, suspiro enquanto me perco pelas fotos que me preenchem a alma, o teu sorriso pintado pela luz das estrelas, o teu olhar onde me encontro ainda, tudo eu agora eternizo nestas palavras escritas pelo sangue da alma, dores minhas…
Só quem já perdeu quem amava me consegue entender, só quem viu a morte a beijar a boca de quem amavam pode entender a mordaz tristeza que carrego em mim, só quem chora comigo agora, só quem deixa que o caudal das minhas lágrimas lhe percorra a face sente o sofrimento tamanho que carrego em mim…
“Nunca é demasiado tarde” disseste-me tu uma vez, tinha-me atrasado para o nosso encontro, quando cheguei estavas sentada na margem do rio, pés descalços dentro de água, rosto perdido no verde dos arbustos, procurei desculpar-me pelo atraso mas foi só essa a resposta que me deste.
Digo-te hoje que agora é demasiado tarde para viver, já nada me prende aqui, envelheci por dentro também, tanto, tão negro, tão escuro em mim que se me apodreceram as entranhas, só me ficou a brilhar no lugar do coração o teu sorriso redondo onde me guardavas.
Enterraram o teu corpo, o que te rodeia agora é terra, o que me rodeia agora é terra, quase me sinto sufocar por esta terra imensa que me entra pela boca, tantas e tantas vezes tenho este pensamento, este sonhos, tantas vezes me deixo adormecer para acordar com o rosto banhado em lágrimas, as mãos na boca tentando impedir que tanta terra por ela entre.
Espera-me meu amor, espera-me nesse nosso céu tantas vezes inventado pelas nossas jovens mentes, “nunca é demasiado tarde” para nos encontrarmos, deixa-me só escrever a nossa história, eternizar este sentimento… sei que a morte está perto, demasiado perto, já me não resta tempo suficiente para me despedir de todos os locais onde nos amamos, já me não resta tempo suficiente para me matar, a morte está perto!


. façam de conta que eu não estive cá .

 
Autor
Margarete
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