Prosas Poéticas : 

Contigo

 
Open in new windowRouxinol de voz doce, leva-me para o teu fofo ninho, a mim… que te pertenço!...
Leva-me do meu freixo de menina, alimenta-me, aconchega-me, acaricia-me, ensina-me a voar.
Partilha comigo os teus galhos tenros e mostra-me do teu altar sobranceiro, os campos dourados salpicados de papoilas rubras e florestas que desconheço.
Ensina-me a cantar as tuas melodias e deixa-me ser instrumento da tua orquestra de sons alegres e nostálgicos, agudos e graves, de rir e de chorar.
Quero cantar até que a voz me falhe e os pulmões se cansem, até que tristezas parem e os sonhos se alcancem. Até que me ouças cantar, rouxinol triste
No dorso do jumento da criança boieira, transportarei todos os vestidos, a minha boneca de trapos, a minha voz, os meus sentidos, a inocência e esta carência sem fim, de menina.
E tu, gaivota jovem de asas brilhantes e belas, partilha comigo o mastro do teu navio, de onde aviste outros mundos!...
Esvoaça e afogenta a multidão que me comprime e atormenta e não me deixa ser, crescer!…
Leva-me para um céu onde não haja nuvens negras, vestes negras, onde se respire ar puro e se cante e dance livremente!...
Pois tu não vês que as minhas asas estão caídas, sem brilho e ressequidas?
Não vês que as amarras e os sulcos profundos no meu corpo, me prendem, asfixiam e flagelam?
Não vês que os nós da minha alma me matam os sonhos?
Gaivota, afugenta a multidão que me oprime e atormenta!...
Leva-me no mastro do teu navio; também eu quero ser gaivota!...
Quero voar sobre as águas cristalinas do oceano com reflexos de céu azul, ser levada por brisa suave e perfumada. Quero dormir na cama da sereia sedutora e com ela cantar as canções que confundem, desorientam os marinheiros apaixonados e quero desorientá-los e seduzi-los também.
Quero atracar e encontrar o rouxinol triste, fazer parte da sua orquestra e, a esvoaçar de galho em galho, de mastro em mastro, cantar, crescer,… ser eu.
Contigo em mim!...
Contigo gaivota, a jovem que sou, a criança que fui!...



Quisera eu ser poeta
Quisera eu ser pintor
Escrever telas e pintar poemas
Escrever, pintar, pintar,escrever
A humanidade com muita cor

 
Autor
adelaidemonteiro
 
Texto
Data
Leituras
920
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
19 pontos
11
0
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 07/03/2009 11:52  Atualizado: 07/03/2009 11:52
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: Contigo
Belíssima prosa poética, na qual me revejo,
Adelaide.
Muito bonito!
Beijinho
Vóny Ferreira


Enviado por Tópico
Maria Verde
Publicado: 07/03/2009 13:30  Atualizado: 07/03/2009 13:30
Colaborador
Usuário desde: 20/01/2008
Localidade: SP
Mensagens: 3489
 Re: Contigo
gosto muito deste tipo de texto, quando as lembranças pueris se sobrepõem ao presente imediato, deixando-nos o desejo de retornar a uma infância mágica!
queria ser menina novamente! rs

beijos


Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 07/03/2009 18:10  Atualizado: 07/03/2009 18:10
Membro de honra
Usuário desde: 09/05/2008
Localidade: Carregado-Alenquer
Mensagens: 11255
 Re: Contigo
Bela prosa poética que nos faz voar nas asas da gaivota.

Beijos


Enviado por Tópico
GlóriaSalles
Publicado: 07/03/2009 18:19  Atualizado: 07/03/2009 18:19
Colaborador
Usuário desde: 28/07/2008
Localidade: Flórida Pta-SP
Mensagens: 2514
 Re: Contigo
Me permiti viajar no teu texto, Adelaide.
Muito lindo...
Beijos
Open in new window


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 08/03/2009 20:20  Atualizado: 08/03/2009 20:20
 Re: Contigo
Adelaide monteiro
lindo demais sua prosa, amei...
bjs
Parabéns

Open in new window

Enviado por Tópico
glp
Publicado: 09/03/2009 12:47  Atualizado: 09/03/2009 12:47
Da casa!
Usuário desde: 26/02/2007
Localidade: Belas
Mensagens: 464
 Re: Contigo
Gostei deste texto, Adelaide.

Parabéns!