A metade do olho furando a razão
Cegando a menina do brilho da dor
Metade da razão pronta p'ra explodir
E em muitos países se dividir
Criando novas metades de novas razões
Outros caminhos, novas raízes caídas
Que se sentissem não faziam tudo assim
Tão perfeitos e com um jeito de fim
A metade do povo marchando pela história
E na soma dos hinos formam o coro dos mortos
E nos corpos dos feridos a tara dos armados
Mas outra metade do mistério é a nossa memória
De um lado da fé dorme a mente dos loucos
Do outro lado da mente começa a fila dos miseráveis
Que diante da imagem imagina homens parados
Somando as metades, mentes e dividindo por nada
Quando na metade da gota a espera morre afogada
Na outra metade do sangue, nadam crianças por nada
E da soma de agonias, fantasias, poucas alegrias raras
Retiram a razão e fazem um limite p'ra essas vidas.
A metade da faca é o corte e da vida é a morte
A metade do amor é aliança e da cabeça é a trança
A metade da brasa é carvão e do fogo é a canção
É de nada é a metade da razão: dá vontade de viver
José Veríssimo