E eu morro a cada dia
quando cada coisa morre.
Outrora Deus me socorria;
agora já não socorre...
Vai um pássaro, coitadinho,
de hirtas e opacas asas.
Vai com ele um bocadinho
da minha alegria tão rasa.
Vão-se o amigo, o cão, o gato, o boi,
tudo vai nesta infalível jornada.
Só fica a angústia do que foi
na minha memória cansada.
Até um jovem filho se vai
sem mesmo saber p'ra onde,
na vã liberdade que atrai
e mil armadilhas esconde.
Nenhuma alegria perdura
e todo gozo é passageiro.
Só de tristeza há fartura
todo dia, o ano inteiro...
Quando eu me for (e será breve!)
levarei comigo esta carga.
Não quero que alguém herde
tanta lembrança amarga.
Remisson Aniceto - poeta brasileiro, da cidade de Nova Era, editor da Revista PROTEXTO, de páginas abertas para novos e conhecidos autores.