Filho, boa noite e vá dormir
Chegou a noite e a mãe tem que ir
Pela vida, pelas pedras, pelos bares
E quando chegar a tarde madrugada
Sua mãe volta, cansada e tonta, cheirando a cama
Mas num liga não filho – a vida é assim –
Todos os meninos dormindo, inocentes
Sonhando os sonhos dos outros
Vivendo as vidas, partidas
Suando a água de rosto comum
Vou rasgar rótulos de brahma
vestir meu copo vazio de vida
vou sentir animal acuado
vou gritar meu grito de amor
e voltar cantando cores diferentes
Como se eu trocasse a roupa
Do meu interior cheiro de dor nua
E encontrasse a felicidade dos dias
No raio último da lâmpada de minha rua
Quando se vai a saudade é menor
E não se mede a loucura da ida
Pela fraqueza do momento ido
E sim, meu filho, quando volto
E trago, mesmo das ruas frias
o mesmo calor de mãe, eterno
que acredita no filho e na vida
mesmo depois de todas as loucuras
Vou rasgar retalhos de sua roupa
e enrolar o meu amor de rua
p'ra mostrar a essa gente egoísta
que a vida não é nada disso
quando se tem amor e vida
e ainda se pode guardar no peito
o mesmo calor e o mesmo sorriso
que a vida diz: "serem precisos".
José Veríssimo