Meditação
Passam horas, dias, meses, anos.
Um quarto com registo histórico.
Regista amores e danos
Dissabores e pequenos feitos heróicos.
Das paredes caem folhas
Como no Outono.
Lentamente, castanhas, flutuam.
Umas relembram-me escolhas,
Outras sonhos que tive no sono.
Algumas não me lembro onde se situam.
Existem outras
Que ou são imaginação
Ou vidas passadas.
Algumas não soltam,
Têm pouca informação.
Vejo outras, no canto, queimadas.
Cada minuto,
Solta mais e mais.
Quarto demasiado cheio.
Deita por fora. Sufoco.
Tenho que fugir.
Saio em esforço para um alívio
Que me deixa vazio.
Agora, não sei quem sou,
Onde fui ou como me chamo.
Passo por ruas conhecidas
Que agora me são estranhas.
Caras que me eram queridas,
Agora esquecidas.
Sinto-me perdido sem recordações.
Desejo o peso, o sufoco
Do meu quarto memorial.
Não existem emoções,
Baralhado, reajo como louco.
Nada me parece real.
Afinal que desejo?
Se não posso esquecer tudo
Sem esquecer quem sou.
Trôpego manejo
A língua vendo que estou mudo.
Esqueci o português e não sei onde vou.
Onde está a chave
Para entrar no meu velho quarto?