O gozo é a origem de toda vida
E também a finalidade reincidente
Do gozo viemos
Ao gozo voltaremos
Voltamos sempre que podemos.
Luta diária contra o mofo e o musgo
No acimentado e nas paredes do corredor lateral
Enfurnado nos quartos e no estúdio de som
O líquen desvairado me punge ao peito
Luta diária contra a tuberculose desbragada
Acendo fogueira no quintal pra curar
Sobem os fumos lázulis e liláses
A grama nova ainda tomando raízes.
O sangue prefere passar discreto
Escondido
O sangue prefere passar silencioso
Mistério
Só jorrar nas bocanhas ímpias
Já goela abaixo do predador
Sem desfalques na mística.
O suor banha o corpo heróico
Sóbrio profano destemido
Ele beija-lha à concha
Chupa fora a fina pérola
Da paixão regalada
Do são assanhamento.
Risos de outrora
E más lembranças de que já me esqueço
O dia me nasceu no meio da madrugada
E só soube agradecer
Só soube dizer perscrutado pelo arrepio
Obrigado pai sem nome
Obrigado pela desavença do desafio
Pela prova de fé
Doída solidão leal que floresceu e borboletrou
Sagaz noção do real que projetou e fundamentou.
Devoro-lhe os miolos caro leitor
E minhas tripas saltam soltas pelas pontas de meus dedos
Cocegando o cócxis tímido e retraído da erudição poeirenta
Um sol implode
Vulcão abrupto do vilipêndio poético
Os invejosos escarnecem
E a musa umedece.