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Prosas Poéticas : 

Polifonia

 
 
Tento afastar do meu espírito quaisquer abstrações que me venham devorar, toco meu coração com as mãos enluvadas, com os olhos libertos, o pensamento lento, despressurizado e ouço em meu íntimo pormenores desarmônicos de um sentimento imperfeito, vozes que são vozes há muito manuscritas no encalço das luzes que ouvi passarem. Da janela presencio a mudez simbólica dos viventes em procissão, presos ao cotidiano sem estética de seus passos, e uma música diz de mim: ‘sabe o que eu queria agora, meu bem? sair, chegar lá fora e encontrar alguém que não me dissesse nada, não me perguntasse nada também...’
Sinto a pelúcia enganadora do tempo acariciar-me, hastear em mim bandeiras negras, insultar previsões dos meus ancestrais...
Fecho os meus olhos em íntima demolição e uma gota de sangue sobre o último acorde inteligível depõe em favor do fim.

 
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Amora
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Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 03/03/2009 16:16  Atualizado: 03/03/2009 16:16
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: Polifonia
Tocar o coração com as mãos enluvadas pode ser sinal de medo de o magoar... É, deve ser isso mesmo amiga...
Um texto excelente. Daqueles... de cortar a respiração, como só tu és capaz de me fazer...

Beijo grande


Enviado por Tópico
(re)velata
Publicado: 03/03/2009 20:21  Atualizado: 03/03/2009 20:21
Membro de honra
Usuário desde: 23/02/2009
Localidade: Lagos
Mensagens: 2214
 Re: Polifonia
"toco meu coração com as mãos enluvadas"

Lindo! Belo texto, intenso e arrebatador!

Parabéns!

Bj


Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 03/03/2009 20:28  Atualizado: 03/03/2009 20:28
Colaborador
Usuário desde: 22/09/2008
Localidade: Ansião
Mensagens: 5058
 Re: Polifonia
Texto profundo, ofegante...de grande qualidade.
Gostei, obviamente.
Beijinho


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/03/2009 20:59  Atualizado: 03/03/2009 20:59
 Re: Polifonia
Amora, Amora, Amora... mãos enluvadas, um sopro divino somados a sua pena, e um grande coração repleto de amor. É o grande legado que tens poetisa.
Não quero mais nada hoje;
‘sabe o que eu queria agora, meu bem? sair, chegar lá fora e encontrar alguém que não me dissesse nada, não me perguntasse nada também...’(onde Deus pudesse me ouvir) pra não estragar o sabor do que tanto bebi dessa tua poesia.

um beijo e afetuoso abraço.
Silveira


ps.: com Vander Lee, o fechamento foi perfeito.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 05/03/2009 16:59  Atualizado: 05/03/2009 16:59
 Re: Polifonia
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Fiquei suspensa na leitura deste texto. Nele estão latentes imagens de um medo sublime de magoar e ser magoado. Texto brilhantemente escrito como só tu!

Vou levar-te comigo!

beijo azul

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